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terça-feira, 6 de julho de 2010
SINDROME DE DOWN
A Síndrome de Down é uma cromossomopatia, uma doença causada cujo quadro clínico global é explicado por um desequilíbrio na constituição cromossômica (a presença de um cromossomo 21 extra), caracterizando, assim uma trissomia simples, o cariótipo 47,xx,+21 ou 47,xy,21+21 esta presente em cerca de 95% dos casos da composição cromossômica das pessoas com Síndrome de Down.
Esta síndrome também pode ser caracterizada por uma translocação ou um mosaico na translocação, o cromossomo 21 adicional esta fundido a um outro autossomo 14 e 21. A ocorrência deste tipo de anomalia se dá em 5% dos casos diagnosticados. Já a Síndrome de Down caracterizada por um mosaico representa um grupo menor, no qual as células trissômicas aparecem ao lado de células normais.
A Síndrome de Down tem registros antigos na história do homem, sendo os primeiros trabalhos científicos datados do século XIX. Contudo, a história da humanidade mostra crianças com Síndrome de Down sendo retratadas, principalmente, por pintores. Em 1838, Esquirol fez referência a Síndrome em um dicionário médico. Outros registros são constatados na história, por exemplo, no livro de Chambers, datado de 1844, no qual a Síndrome de Down é denominada “idiotia do tipo mongolóide”
Entretanto o reconhecimento da Síndrome de Down como uma manifestação clínica, só ocorreu com o trabalho de Langdon Down, em 1966 que foi influenciado pelos conceitos evolucionistas da época. Em seu trabalho, Langdon Down afirmava a existência de raças superiores a outras, sendo inferiores. Além disso, a tuberculose, presente nos genitores de crianças com Síndrome de Down daquela época, era considerada como um fator etiológico.
Depois desse trabalho inicial, vieram outros que contribuíram para aprofundar o conhecimento sobre a Síndrome de Down. Mas foi somente em 1932, que um oftalmologista holandês chamado Waardenburg sugeriu que a ocorrência da Síndrome de Down fosse causada por uma aberração cromossômica. Dois anos mais tarde, em 1934, nos Estados Unidos, Adrian Bleyer supôs que essa aberração poderia ser uma trissomia. Parecia portanto que a descoberta da causa da Síndrome de Down estava próxima. Contudo, foram necessárias mais de duas décadas para que isto ocorresse. Foi somente em 1959 que o Dr. Jerome Lejeune e Patricia A. Jacobs e seus respectivos colaboradores descobriram, quase que simultaneamente a existência de um cromossomo
extra.
A denominação de Síndrome de Down só foi proposta após várias outras denominações terem sido usadas: imbecilidade, mongolóide, idiotia mongolóide, cretinismo, furfuráceo, acromicria, congênita, criança inacabada, dentre outras. Obviamente, alguns desses termos apresentam um alto grau pejorativo, incluindo o termo mongolismo, que foi amplamente utilizado até 1961, quando as criticas contrárias ao seu uso despontaram. Em decorrência disso, segundo Schwartzman(1999ª), esta terminologia foi suprimida nas públicas da Organização Mundial (OMS) a partir de 1965, prevalecendo a denominação de Síndrome de Down, embora o termo mongolismo ainda seja utilizado na linguagem cotidiana.
AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN.
• Fendas palpebrais oblíquas
• Face plana
• Orelhas mal formadas e de implantação baixa
• Língua protrusa
• Mãos pequenas
• Dedos curtos
• Prega simiesca nas mãos
• Carotiopatia congênita
• Pescoço curto
• Baixa estatura
• Leucemias
• Hipotonia muscular
• Retardo psicomotor.
Segundo publicado na revista Vida e Saúde “os fatores de risco para a Síndrome de Down são:
• Um dos pais já ter filho nascido com a Síndrome.
• Um dos pais apresentarem desordens cromossômicas
• A idade da mulher ao engravidar. Até os 35 anos de idade, a possibilidade é de 0,1%.Dos 35 aos 39 anos a chance sobe para 0,5%;dos 40 aos 44 anos chega a 1,5% e cima de 45,a chance triplica,chegando a 3,5%.(Esses dados referem-se às mulheres que nunca tiveram um filho com a Síndrome.”
De acordo com Thompson e Thompson(1993):
“um problema constante da informação genética, sobretudo da genética pré- natal, é como avaliar o risco de nascimento de uma criança com a Síndrome de Down. A síndrome é detectável no pré-natal por análise citogenética de células das vilosidades coriônicas ou do líquido amniótico,e de fato 80% dos diagnósticos pré-natais são realizados porque a idade materna avançada levanta uma preocupação com o risco da Síndrome de Down no feto.”
Um princípio comumente aceito é que uma mulher é adequada para o diagnóstico pré-natal se o risco de que seu feto tenha a Síndrome de Down superar o risco de o procedimento de aminiocentese ou coleta de amostra das vilosidades coriônicas usado para obter tecido fetal para análise cromossômica levar à perda do feto. O risco depende principalmente da idade materna, mas também dos cariótipos dos pais.
Desenvolvimento Cognitivo dos Portadores de Síndrome de Down
Durante muito tempo os portadores da SD foram privados de experiências fundamentais para o seu desenvolvimento porque não se acreditava que eram capazes nem mesmo de exercer atividades da vida diária. Todavia já se comprovou que são capazes de construir conhecimento tanto quanto qualquer sujeito, necessitando, porém, de convívio e oportunidade de acesso à aprendizagem como qualquer ser humano.
Assim, a partir do 15º dia de nascimento deverão ser desenvolvidos programas de estimulação precoce que propiciem seu desenvolvimento motor e intelectual.
Dentre as possibilidades pedagógicas pode-se citar o estímulo à descoberta, inventividade, criatividade e a formação de redes de conhecimento e significações.
A brincadeira deve estar presente em qualquer proposta de trabalho infantil, pois é a partir dela que a criança explora e internaliza conceitos, sempre aliados inicialmente à movimentação do corpo.
Com relação ao ensino de crianças especiais, as atividades devem ser centradas em coisas concretas, que devem ser manuseadas pelos alunos, onde as experiências devem ser adquiridas no ambiente próprio do aluno.
Contudo, observa-se certa demora para o portador da SD adquirir determinadas habilidades, bem como dificuldade no raciocínio abstrato, nas tarefas que envolvam associação, discriminação, assim como as que envolvam matemática. Portanto é importante a orientação aos familiares para que as expectativas geradas não prejudiquem seu desenvolvimento.
Todavia, estudos mostram que crianças e jovens com Síndrome de Down podem alcançar estágios muito mais avançados de raciocínio e de desenvolvimento, bastando com isto que se tenha uma visão real das necessidades e dificuldades da criança para que através de uma estimulação sensível e coerente com as suas condições ela possa se desenvolver.
O portador da síndrome de down é capaz de compreender suas limitações e conviver com suas dificuldades, porém é importante que tenham autonomia para tomar iniciativas e receber apoio, onde possam participar e interferir com certa autonomia em um mundo onde "normais" e deficientes são semelhantes em suas inúmeras diferenças.
Conclusão
A aprovação da Lei de Diretrizes Educacionais - LDB (Lei 9394/96) estabeleceu, entre outros princípios, o de "igualdade e condições para o acesso e permanência na escola" e adotou nova modalidade de educação para "educandos com necessidades especiais.
Freqüentar a escola permitirá a criança especial adquirir, progressivamente, conhecimentos, cada vez mais complexos que serão exigidos da sociedade e cujas bases são indispensáveis para a formação de qualquer indivíduo.
Assim, elas se sentirão mais seguras para uma inclusão na sociedade possibilitando um grande êxito, pois em mundo onde as diferenças individuais são pouco respeitadas, a criança portadora de Síndrome de Down, como todas as outras, precisa saber contornar certas situações e ter confiança para poder participar de um grupo social e escolar.
VISÃO PSICOMOTORA NA INFÂNCIA
A Educação psicomotora se originou na França e 1966, a educação física não correspondia às necessidades de uma educação real e corpo. Assim os ministérios da educação Nacional e da juventude a dos esportes viram a necessidade da Educação psicomotora na infância.
Lê boulch formulou uma teoria geral do movimento: A Educação Psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e escolares: leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, há dominar o tempo, a adquirir habilidades suficientes e coordenação de seus gestos e movimentos.
O terceiro tempo Pedagógico, em Paris significou uma renovação da Pedagogia e da introdução da Educação Psicomotora na escola primária. Pierre Vayer teve contribuição importante, pois dizia que o educador deveria esforçar-se para obter da criança: a consciência do próprio corpo; o domínio do equilíbrio; o controle e a eficácia das diversas coordenações globais e parciais; o controle da inibição voluntária da respiração; a organização do esquema corporal e a organização no espaço; uma estruturação espaço temporal correta; e maiores possibilidades de adaptação ao mundo exterior.
François outro estudioso deste assunto diz que a Educação Psicomotora existe durante toda a vida da criança. André Lapierre deixou marcas importantes, esse autor refere-se à escola como um espaço de profilaxia, como um dos elementos mais importantes na vida social ensinando que a educação não consiste somente na aquisição de conhecimentos, mas que se deve preocupar com a formação da personalidade do individuo, nos seus aspectos mais profundos.
O primeiro trabalho de Psicomotricidade foi realizado em uma escola publica, e num estabelecimento privado em Belo horizonte por Suzana Veloso.
Como já dizia (Fonseca) a historia do saber da psicomotricidade, representa já um século de esforço de ação e de pensamentos, a sua cientificidade na era da cibernética e da informática, vai-nos permitir certamente, ir mais longe da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência do corpo com o psíquico. Esta intimidade filogenética e ontogenética representam o triunfo evolutivo da espécie humana, um longo passado de vários milhões de anos de conquistas psicomotoras.
E a historia da psicomotricidade tem vários autores importantes para a psicologia, René Descartes assinala a dualidade corpo e alma, na organização de dois eixos de reflexão e analise: uma fisiologia para o corpo e uma teoria para a alma. “É a alma que dá ordens ao corpo e comanda seus movimentos”. O corpo passa a ter vida própria, porém influenciado pelas paixões. A teoria do indivíduo livre e voluntário diz respeito a um ser que domina suas reações corporais e cuja força reside no controle que exerce sobre as paixões.
A História do saber da psicomotricidade representa já um século de esforços de ação e de pensamento a sua cientificidade na era da cibernética e da informática, vai-nos permitir certamente, ir mais longe da descrição das relações mutuas e recíprocas da convivência do corpo com o psiquismo. Esta intimidade filogenética e ontogênica representa o triunfo evolutivo da espécie humana, um logo passado de vários milhões de anos de conquistas psicomotoras.
O paralelismo psicomotor define-se como uma tentativa de superação ao dualismo cartesiano (mente e corpo). Levin (1995) reporta-se ao primeiro corte epistemológico. Nessa etapa, a influencia da Neuropsiquiatria é determinada numa clinica centrada no aspecto motor e num corpo instrumental, uma ferramenta de trabalho para o reeduca dor que se propõe a conserta-lo. Wallon realizou um trabalho importante sobre os aspectos psicofisiológicos da vida efetiva, a consciência corporal, a relação intrínseca tônus-emocão, que chama de dialogo tonico, assinalando que as atividades de relação e postural tem, em sua origem, uma raiz comum. Ainda Wallon estudou,em 1945, os prelúdios psicomotores do pensamento e descreveu os estádios do desenvolvimento. Piaget foi um dos autores que mais estudou as inter-relações da motricidade com a percepção, através de ampla experimentação. Com as varias contribuições somadas a de Piaget e Wallon, foi possível redefinir os objetivos da Psicomotricidade, dando ênfase especial à relação, às emoções e ao movimento.
A abordagem, por conseguinte, com esse enfoque “global” do corpo do sujeito, esta determinada por três dimensões nas qual o psicomotricista centra o seu olhar: uma tridimensional grande, de teor instrumental, cognitivo e Tonico-emocional. A terapia psicomotora centra seu olhar, a partir da expressão do corpo, no intercambio e no vinculo corporal, na relação corporal entre a pessoa do terapeuta e a pessoa do paciente em dialogo de empatia Tonica.
Levin diz, a clinica psicomotora é aquela na qual o eixo é a transferência e, nela, o corpo real, imaginário e simbólico é dado a ver ao olhar do psicomotricista. O sujeito diz com seu corpo, com sua motricidade, com seus gestos, e, portanto, espera ser olhado e escutado na transferência deste um lugar simbólico. Vários paises foram modificando, seus métodos. A primeira formação sistematizada aconteceu no Rio de janeiro. Posteriormente, iniciaram os cursos de formação, pelos franceses André Lapierre e Françoise Desobeau. Lapierre trabalhou o autoconhecimento, em vista de uma abordagem psicomotora relacional, que valoriza o movimento espontâneo e a parte fantasmática do mundo interno de cada individuo. Desobeau, dentro de uma abordagem relativamente nova e revolucionaria, a partir de uma atividade espontânea, acompanhou o cliente em suas explorações, que lhe permitirem perceber o mundo e colocar-se nele, vivenciando diferentemente os vários níveis de desenvolvimento: sensório-motor, psicomotor e Tonico - emocional. Essa vivencia possibilitam o sujeito a refazer as ligações que estão perturbadas e tornar possível o seu engajamento neste mundo de uma forma harmoniosa e saudável.
Analisaremos a definição da Psicomotricidade, conforme reconhece a Sociedade brasileira de Psicomotricodade: A Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através de seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionado ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitiva, afetivas e orgânicas.
O desenvolvimento é uma conquista crescente. É no lar que se iniciam a vida da criança e o aprendizado do mundo, juntamente com a consciência de se mesma como pessoa autônoma, livre e responsável. O processo de crescer na existe sem conflitos e crises. A satisfação/ insatisfação, o prazer/ desprazer são inerentes à condição humana. O bebe, deste o nascimento, entra em relação afetiva com seus pais e vai fazendo a descobertas de suas capacidades motoras, sensoriais e intelectuais, construindo, aos poucos, a sua identidade. Ele vivencia a satisfação de suas necessidades e desejos e, ao mesmo tempo, convive com frustrações de desejos irrealizáveis. Encontra estímulos e apoio ou, ao contrario, obstáculos aos seus desejos. Vai se sentir pleno e cheio de amor ou vazio, expressando, através do choro e agitação motora, a “raiva” que sente por não ser satisfeito. São momentos bons e agradáveis, como também instantes desagradáveis e de sofrimento. Como nos diz Melaine Klein (1981). Passa de um momento para o outro sem ter consciência do que ocorre. O bebe não tem consciência de sua dimensão histórica nem percebe conscientemente a si mesmo, as outras pessoas e o espaço que ocupa. Vive a simbiose com sua mãe ou o adulto substituto.
Com seu desenvolvimento normal, ate o oitavo mês, ela ainda não sabe diferenciar quando sua mãe sai de sua frente, ela vai, mas volta, o bebe sente medo e angustia. Só no final do primeiro ano, o bebe faz a descoberta da permanência do objeto de amor e também dos objetos que ela explora no mundo. As percepções desenvolvem-se com a experiência e com a crescente maturidade das suas células nervosas, sensoriais, motrizes e conectivas. Vai descobrindo os prazeres da vida. A criança se torna uma verdadeira exploradora do espaço e do ambiente. Sua atividade motora mostra a busca de afirmação e autonomia.
Vários autores fazem referencia e sugerem também que a criança tem um tipo de maturação hierarquizada, apontada pela constelação psicomotora dos sete fatores como: a tonicidade, primeiro fator interação neurotônica em que se processam as aquisições antigravíticas promotoras; a equilibração, que culmina na postura bípede, marco decisivo da motricidade humana, que confere ao corpo a sua dimensão bilateral; a noção do corpo, gênese do Eu e síntese da consciência do espaço intracorporal; a estrutura espaciotemporal, que inter-relaciona os dados intracorporais com os extracorporais, e as praxias, como conquistas da neumotricidade, isto é, a motricidade como resultado de uma experiência social.
Essa complexidade crescente da motricidade humana na assenta, afetivamente, numa maturação neurológica que ocorre desde a primeira unidade de Lúria até a terceira unidade, e que, quando há imaturidade num desses subfatores, poderá ocorrer dificuldade em seu desenvolvimento e consequentemente em sua aprendizagem. Tonicidade: É o alicerce fundamental na organização da Psicomotricidade. A tonicidade abrange todos os músculos responsáveis pelas funções biológicas e psicológicas, alem de toda e qualquer forma de relação e comunicação não verbal, tendo como característica essencial o seu baixo nível energético, que permite ao ser humano manter-se de pé por grandes espaços de tempo, sem a manifestação de sinais de fadiga. Equilíbrio: É a capacidade de manutenção e orientação do corpo e suas partes em relação ao espaço externo e à ação da gravidade. É obtido por meio de informações visuais, labirínticas, sinestésicas e proprioceptivas integradas ao tronco cerebral e ao cérebro. É um ato consciente e inconsciente relacionado com o tônus muscular, estando presente em todas as possibilidades motoras do homem em seu meio ambiente. Fonseca nos ensina ainda que a equilibração seja um andamento essencial do desenvolvimento psiconeurológico da criança, um passo chave para todas as ações coordenadas e intencionais que, no fundo, são os alicerces dos processos humanos de aprendizagem. Noção do corpo: A evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais profundo de seu corpo. A imagem corporal é a figuração de nosso corpo formado em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual ele se apresenta para nós. É ela que permite distinguir-nos em relação aos outro e só pode ser elaborada com a intervenção de outra pessoa, desde que essa pessoa seja significativa ao sujeito. O esquema corporal regula a postura e o equilíbrio. A noção corporal, portanto, envolve a estruturação do esquema corporal, que é a percepção do corpo, atuando no espaço, locomovendo-se, num ritmo próprio, num estado de tensão ou relaxamento muscular. Lateralidade: Lateralidade é a percepção dos lados do corpo, portanto, é o elemento fundamental de relação e orientação do corpo com o mundo exterior. A dominância funcional de um dos lados do corpo é o resultado da relação entre as funções dos dois hemisférios cerebrais. A lateralização basicamente inata é governada por fatores genéticos, embora os treinos repetidos e os fatores de pressão social a possa influenciar. A lateralização é a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro em três níveis: Mão olho e pé. Estruturação espaciotemporal: a organização espaciotemporal nos conscientiza das formas de deslocamentos corporais de uma maneiraa continua e perceptiva, atuando-nos diferentes planos, eixos, direção e trajetórias. Na Psicomotricidade, a estruturação espaciotemporal é um dado importante para uma adaptação favorável do individuo. Permite a ele não só movimentar-se e reconhecer-se no espaço como também relacionar e dar seqüência aos espaços como também relacionar e dar seqüência aos seus gestos, localizando e utilizando as partes do corpo, coordenando e organizando sua atividade de vida diária. Praxia global: A praxia global está integrada na terceira unidade funcional de Lúria, cuja função fundamental envolve a organização da atividade consciente e sua programação, regulação e verificação. Tem como principal missão a realização e a automatização dos movimentos globais complexos que se desenrolam num certo período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares. A praxia global nos dá indicadores sobre a organização práxica da criança com reflexos nítidos sobre a eficiência, a proficiência e a realização motora. As dispraxias, no entanto, combinam problemas práxicos com problemas da noção do corpo e da estruturação espaciotemporal. Praxia fina: a praxia fina integra todas as considerações e todas as significações psiconeurológicas já avançadas na praxia global. Como aquisição superior, requer a conjugação dos programas de ação, a atenção voluntária, o nível de engramas e somatogramas aprendidos, a capacidade de pré-programação ou reprogramação, funções inerentes a um órgão especializado na exploração, manipulação e a preensão dos objetos.
Assim Podemos dizer então que o brincar é um encontro com a realidade do carpo que se desloca se projeta e se ultrapassa. É espaço do imaginário que promove reencontro possibilita a vivencia do que até então era impossível.
A Psicomotricidade como uma técnica corporal, através de suas intervenções, pode conseguir a integração do homem em suas emoções, ajudando-o a encontrar o lugar que é seu e onde poderá ser verdadeiro. Como prevenção, a educação Psicomotora tem o perfil que preenche, nos dias atuais, as conseqüências da falta de afeto nas relações, pelas cobranças excessivas, e a falta de limite no comportamento das crianças precocemente lançadas no seu vir-a-ser.
TEORIA DO DUPLO VÍNCULO
Uma das principais descobertas da antipsiquiatria foi perceber que os desequilíbrios emocionais decorrem basicamente de distúrbios na comunicação humana. Existe um defeito na forma de se comunicar e de se relacionar, normalmente utilizado, que leva inicialmente à confusão e, conseqüentemente, à desorganização do pensamento e perda da realidade. Isso muitas vezes acontece desde a infância, quando a criança recebe um tipo de comunicação paradoxal, chamada de duplo vínculo.
A descoberta do duplo vínculo ou double bind surgiu em 1956, através de estudos realizados pelo antropólogo Gregory Bateson no departamento de sociologia e antropologia da Universidade de Stanford em Palo Alto (Califórnia). Este estudo originou-se em 1952 quando Bateson juntamente com sua equipe, decidiram estudar os intercâmbios familiares onde se encontrava inserido o esquizofrênico, mais especificamente sobre suas formas de comunicação, gerando assim, estudos mais profundos sobre a patologia da comunicação (neste caso, o duplo vínculo) que era comum nessas famílias.
Esse estudo, denominado posteriormente como Toward a theory of Schizophrenia (Por uma teoria da esquizofrenia) escrito em apenas 20 páginas foi assinado por quatro grande nomes: Don D. Jackson, J. Haley, J.H.Weakland e G.Bateson. Ele nos mostra a intensidade das inter-relações, mesclando mensagens complexas (verbais ou comportamentais) nos seus níveis lógicos, evidentes ou mesmo mais abstratos (visível somente a um observador atento) que, querendo ou não, passam a interferir no comportamento humano: esquizofrenizado ou não os indivíduos dentro do seu universo interfamiliar.
Isto quer dizer que, dentre as famílias em que existia um esquizofrênico e que foram estudadas, foi descoberto um tipo de comunicação paradoxal, um tipo de comunicação ambígua e que, segundo observações, eram constantes na vida do indivíduo esquizofrênico, passando ele próprio a viver nessa ambigüidade, ele
Próprio a viver seu paradoxo.
A Comunicação Humana – Um pouco de sua teoria
A teoria do duplo vínculo está dentro da abordagem sistêmica da doença mental, isto é, está dentro de uma abordagem que possui uma visão sistemática da origem da esquizofrenia, tendo como base principal a comunicação humana.
Perguntando o porquê de se estudar a comunicação humana, cabe deixar claro que a comunicação é uma condição estritamente necessária da vida humana e da ordem social mais ampla. Desde o início de sua existência, um indivíduo se encontra envolvido num complexo processo de aquisição de regras de comunicação, possuindo apenas uma noção mínima daquilo em que consiste esse corpo de regras.
Muitas teorias da comunicação se restringem a estudar a comunicação como um fenômeno unilateral, isto é, do elocutor para o ouvinte, esquecendo-se que a comunicação se dá num processo muito mais complexo, num processo de interação.
A comunicação é, sem sombra de dúvidas, um dos primeiros fenômenos que promove o relacionamento entre o indivíduo e o mundo. É a primeira condição humana que estará sempre presente nas relações interpessoais do indivíduo enquanto um ser que interage com seu meio social.
Apesar de mudarmos um pouco nossa linha de raciocínio apresentada desde o início deste trabalho, é interessante agora darmos uma breve introdução sobre como funciona, como se dá a comunicação em si, partindo para uma breve introdução da teoria da comunicação sobre seu ponto de vista lógico, matemático e sistêmico.
Observando a estrutura da comunicação humana, podemos dizer que a mesma se dá basicamente através de três áreas: da sintaxe, da semântica e da pragmática; e que estas três constituem o estudo da semiótica (teoria geral de sinais e linguagens).
Destas três áreas, a sintaxe é a que abrange mais os problemas da transmissão da informação. Preocupa-se com o problema de código, canais, capacidade, ruído, redundância e outras propriedades estatísticas da linguagem. Estes problemas são puramente sintáticos e não estão preocupados com o significado dos símbolos das mensagens.
O significado das mensagens é o interesse principal da semântica. É interessante observar que, mesmo que a transmissão semântica dos significados pela sintaxe fosse perfeita, não adiantaria nada se tanto o emissor ou o receptor da mensagem não conhecesse o significado da mensagem enviada. Daí podemos compreender melhor a importância da semântica.
O último dos três é o seu aspecto pragmático (e o mais importante para nós). Constitui-se no fato de que o comportamento humano é afetado pela comunicação. Assim sendo, “os dados da pragmática são, não só as palavras, suas configurações e significados, que constituem os dados da sintaxe e da semântica, mas também seus concomitantes não-verbais e a linguagem do corpo.” A partir dessa fala, podemos dizer que, todo comportamento, não só a fala, é comunicação; e que toda a comunicação, não só através da fala, afeta o comportamento.
Resumidamente, a comunicação se processa então por três partes: Na primeira é passada sinteticamente a informação (sintaxe), depois a informação é decodificada através da sua significação (semântica) e, em último, ela passa a afetar o comportamento (pragmática). Este seria o fluxo normal de uma comunicação bem sucedida, derivando para a idéia que temos de relação ou mesmo de interação.
O estudo da teoria do duplo vínculo nas famílias de esquizofrênicos constitui-se então em um estudo do distúrbio do fluxo normal que a comunicação deveria ter, isto é, a comunicação/mensagem passada é dúbia passando a pôr em dúvida toda a complexidade da comunicação, deixando o fluxo normal da mensagem à mercê de uma comunicação paradoxal.
Comunicação Paradoxal – Introdução ao Paradoxo
Historicamente, há mais de dois mil anos o paradoxo tem fascinado a mente humana e somente agora com o desenvolvimento das áreas da lógica, matemática e epistemologia – e que estão intimamente ligadas ao desenvolvimento da teoria da prova, da teoria dos tipos lógicos e dos problemas de coerência, computabilidade, determinabilidade e outros semelhantes – é que se abrangeu um estudo mais detalhado sobre o paradoxo, demonstrando que existe algo em sua natureza que é de importância pragmática (comportamental) e até existencial para todos nós.
A princípio, “o paradoxo pode ser definido como uma contradição que resulta de uma dedução correta a partir de premissas coerentes”; isto é, numa linguagem mais fácil, o paradoxo é o que se diz de uma preposição ao mesmo tempo verdadeira e falsa, ou que contraria o bom senso, ou ainda que vá de encontro à oposição admitida e coerente. Essa definição pode ser enriquecida pela evocação de idéias colaterais: sarcasmo, ironia, sofisma, antífrase, silogismo, antinomia, ou ainda idéias próximas: má fé, contraverdade, falsidade, ambivalência, hipocrisia, ambigüidade, lugar comum, farsa, etc. Isso concerne tanto à lógica quanto à moral.
Voltando-se para os sistemas lógicos e matemáticos, existem ainda três tipos de paradoxos; cada um correspondendo às três áreas da teoria da comunicação vista anteriormente (sintaxe, semântica e pragmática):
A primeira delas são as antinomias (paradoxo da sintaxe). Para se entender melhor, uma antinomia se define como um enunciado que é simultaneamente contraditório e demonstrável. Como por exemplo nesta fórmula: temos dois enunciados, Ef que significa a negação do segundo, que é Ev. Logo, os dois podem ser combinados num terceiro enunciado, Ek; formando-se assim uma fórmula demonstrável do primeiro paradoxo: Ek=Ef & Ev. Explicando melhor, as Antinomias (Ek) são uma contradição formal, pois nada pode ser uma coisa e, ao mesmo tempo, não ser uma coisa; nada pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo, em uma só afirmação.
O outro tipo de paradoxo é o que difere das antinomias num aspecto importante: não ocorrem nos sistemas lógicos e matemáticos. Dão-se através de algumas incoerências ocultas na estrutura de níveis do pensamento e da linguagem. São mais conhecidos como antinomias semânticas. Paradoxos existentes na decodificação das sintaxes. Paradoxos encontrados na significação das mensagens.
Este paradoxo é a chave dos estudos da duplo vinculação. São paradoxos que surgem nas interações em desenvolvimento e que passam a determinar os comportamentos. São denominados de paradoxos pragmáticos.
Podemos observar então que, cada um dos processos básicos da comunicação possui uma comunicação paradoxal:
A sintaxe possui paradoxos lógico-matemáticos denominados antinomias.
A semântica possui paradoxos denominados de antinomias semânticas
A pragmática possui seus paradoxos pragmáticos
Isto é, resumidamente, existem disfunções (paradoxos) em cada um dos níveis da comunicação, existem formas que dão sentido dúbio na forma que a mensagem é transmitida (antinomia), na forma em que é entendida (antinomia semântica) e na forma em que afeta o comportamento (paradoxo pragmático)
Esta seria a fórmula representativa de como ocorre a comunicação paradoxal.
A prática do duplo vínculo
Voltando para uma linguagem mais simples, podemos dizer que o duplo vínculo nada mais é que duas mensagens (uma em contraposição à outra) enviadas simultaneamente que, se for utilizada sempre em uma criança (por exemplo), pode conduzi-la à loucura. Trata-se de uma forma de negar e afirmar algo ao mesmo tempo e transmitir isso através do mesmo canal de comunicação (pela fala) ou por canais de comunicação diferentes (fala e expressões gestuais ou faciais).
Esse tipo de comunicação paradoxal utilizada na relação duplo-vinculadora ocasionaria primeiramente uma confusão e, a partir daí seu uso contínuo poderia levar até a loucura. É uma forma usada para confundir uma pessoa que recebe esse tipo de mensagem, tornando-a fraca e dependente.
No entanto, a mais extraordinária e dramática descoberta da antipsiquiatria foi constatar que o duplo vínculo só funciona quando existe uma forte relação afetiva. Ela surge principalmente nas relações familiares e amorosas. Assim, é o amor o instrumento fundamental para a dominação e neurotização dos indivíduos na vida burguesa.
Vejamos um exemplo de uma situação duplo-vinculadora: Uma garota de 19 anos deseja sair de casa e morar separada de seus pais. Ela quer apenas ampliar sua liberdade sem que isso corte o relacionamento com a família. Num diálogo com a mãe ela comunica sua decisão e recebe um duplo vínculo: a mãe lhe diz estar feliz por sua filha resolver separar-se dela e, ao mesmo tempo, não consegue conter as lágrimas ao afirmar isso. Na verdade, está dizendo em palavras ser natural e saudável a independência da filha, mas afirma também pelas lágrimas que isto a fará sofrer muito.
Embora não tenha realmente dito isso, foi comunicado que a independência da filha provoca a infelicidade da mãe. Isso produz um forte sentimento de culpa na filha que, em conseqüência, pode abdicar de seu desejo de liberdade e autonomia. Nesse caso foram utilizados dois canais de comunicação (a fala e a expressão facial) na mensagem duplo-vinculadora. Mas a mãe poderia ter utilizado também (em outro exemplo) apenas um canal de comunicação: “Seu pai vai entender também, como eu, o fato de você não querer mais morar conosco, mas fale com cuidado, você sabe, ele já teve um infarto, ele gosta demais de você...”.
De uma maneira ou de outra, a criança que foi sempre educada utilizando-se o amor (através do vínculo duplo) como instrumento de dominação de seus desejos próprios acaba tornando-se apática, impotente, incompetente ou mesmo louca, assumindo assim seu falso eu, tornando-se uma esquizofrênica.
Neste exemplo houve uma comunicação paradoxal ou duplo-vinculadora, pois não se utilizou uma linguagem direta, sincera e objetiva, afirmando um não ou um sim definitivos. Caso a mãe mostrasse sua opinião clara e sincera não teria sido tão grave, pois haveria um impasse claro. O que prejudica a comunicação é o fato de existir tanto uma como outra possibilidade numa só mensagem. Esse tipo de comunicação paradoxal é constante no desenvolvimento de nossa sociedade burguesa resultando-se assim na confusão que vai deformando, alterando a compreensão dos fatores e modificando seus comportamentos. “Essa é a forma de comunicação utilizada pela família da grande maioria das pessoas que se tornam neuróticas”.
O funcionamento do duplo vínculo
Analisando o exemplo anterior, da filha que queria sair de casa, podemos observar claramente a comunicação paradoxal através da teoria da comunicação. A filha, ao receber a mensagem ambígua da mãe, que concorda (pela fala) e que não concorda (pelo choro), através da antinomia (paradoxo da sintaxe), fica em dúvida quanto ao entendimento da mensagem que recebeu (antinomia semântica) e que, devido a isso é gerada uma confusão do que a mãe queria realmente dizer, ocasionando um comportamento ambíguo: não realizando seus desejos e satisfazendo o Desejo de outros (paradoxo pragmático) ao mesmo tempo.
Para entender melhor como o paradoxo ou melhor, como a mensagem paradoxal gera confusão em um indivíduo, podemos tentar compreender a seguinte mensagem (como por exemplo):
Ao ler essa mensagem, a primeira coisa que vem à mente é uma certa confusão. Depois de ler algumas vezes você pode até pensar que entendeu a mensagem mas no fundo ainda ela está confusa pois, se eu minto e escrevi que tudo o que escrevo é falso, eu minto ou eu não minto? E, se tudo o que eu escrevo é falso e eu digo que estou mentindo, então tudo o que escrevo é ou não é falso? Enfim, são duas mensagens em que uma contradiz a outra gerando confusão em quem a recebe.
Nesse caso em especial ainda, “os sentimentos do ego são postos em questão pelos valores negativos das palavras mentir e falso”
Sendo assim, podemos pensar que, uma criança que recebe sempre uma mensagem duplo-vinculadora de seus pais, um ser que desde as origens do seu desenvolvimento vive sempre numa confusão em seus processos cognitivos tende a se desenvolver fora dos padrões considerados normais pela sociedade, tende a se desenvolver em sua própria confusão através da confusão entre os planos verbais e comportamentais da comunicação.
Os Ingredientes do duplo vínculo
Bateson, Don Jackson, Haley e Weakland descreveram os ingredientes de um vínculo duplo:
Trata-se sempre de relações entre duas ou mais pessoas, sendo uma delas a vítima, aquela que é duplo vinculada.
Essa experiência se repete ao longo da existência da vítima. (não ocasionando traumas específicos).
Emite-se uma injunção primária negativa, combinada de uma ameaça. Como por exemplo: Não faça isso, caso contrário eu o punirei; ou Se você não fizer isso, eu o punirei. Para o duplo vínculo ter seu efeito, sabe-se que as relações devem ter carga afetiva, logo nesse exemplo é enfatizado o caráter punitivo da mensagem apontando uma expressão de ódio ou da cólera, ou ainda “essa espécie de abandono que decorre da expressão, por parte dos pais, de sua profunda confusão”
O quarto ingrediente é uma injunção secundária em conflito com a primeira. Esta injunção encontra-se num nível de abstração mais elevado que a primeira por constituir-se de uma antinomia. Muitas vezes torna-se difícil de descrevê-la pois freqüentemente é transmitida através de uma forma paraverbal, como a modulação da voz, dos gestos ou da postura. De uma forma ou de outra, ela acaba negando a primeira. Ex: Não me encare como responsável por sua punição; ou Não leve em conta minhas proibições.
O ingrediente mais importante está na injunção negativa terciária que proíbe à vítima qualquer escapatória. Para a criança é impossível fugir da relação vital que representam os adultos que a cercam. Por vezes, o bloqueio é substituído pela ambigüidade.
O último aspecto é igualmente fundamental no estudo de situações relacionais concretas.Qualquer reação desencadeada de um
Vínculo duplo gera uma reação emocional (paradoxo pragmático)
Sendo assim, os mesmos autores ainda colocaram os três pontos principais que marcam esse tipo de situação:
A relação em questão é essencial, o que confere um valor vital à compreensão correta da mensagem.
O protagonista que aplica o vínculo duplo emite duas espécies de mensagens contraditórias.
A vítima se acha incapacitada de metacomunicar-se, de comentar ou de pedir esclarecimentos quanto às mensagens recebidas.
Resultante destes ingredientes, surgiram dois postulados básicos: o primeiro diz que a situação pode desempenhar um papel significativo na etiologia e nos sintomas clínicos das esquizofrenias e a segunda diz que a primeira se constitui no cerne da relação familiar, bem antes do aparecimento da doença.
Na relação do duplo vínculo com a esquizofrenia é interessante observarmos que um sujeito que se vê confrontado com essas injunções paradoxais, quando a revolta lhe é impossível e quando uma resposta lhe é exigida, o modo mais direto de reação consiste na expressão metafórica, ou seja, simultaneamente, que possa ser interpretada de maneiras múltiplas (antinomia semântica), resposta essa tão paradoxal quanto a injunção paradoxal. Os sintomas de esquizofrenia então, seguindo essa teoria sistêmica da doença mental são, da mesma forma, modos diferentes de respostas analógicas ambíguas e de respostas sem respostas.
Sendo assim:
O esquizofrênico se identifica como um indivíduo não identificável. Suprime não apenas o sentido das palavras e das frases nas trocas, mas também os sinais comportamentais que indicam em que contexto afetivo se situam essas mensagens. Pode até mesmo retirar-se por completo da relação, negando sua própria presença.
Encontramos assim as três grandes formas clínicas de esquizofrenia, segundo o estudo da comunicação. Na forma paranóide, é solicitado ao imaginário privado, contendo imagens, mitos e palavras que chegam até a criar uma ruptura com o imaginário coletivo, apesar de manter o vínculo inicial com ele. Na herbefrênica, a resposta afetiva a outrem é feita sob a forma da ambivalência, mesclando-se a intensidade relacional com a frieza e a hipersensibilidade com a habitual diferença. A catatônica, coloca o distúrbio das relações no nível comportamental: um rosto que não reage ao contato, o retraimento e o mau humor patológico, a rigidez cérea, etc.
Colocando um indivíduo no duplo vínculo
É fácil observar a manipulação constante da distância relacional nas famílias em que há um esquizofrênico, basta analisar as condutas de aproximação e afastamento das mesmas.
Vejamos um exemplo.
A mãe de um jovem esquizofrênico foi ao hospital visitar seu filho, que estava em franca recuperação após um episódio psicótico agudo. O doente apareceu feliz por reencontrar sua mãe. Acolheu-a com espontaneidade e colocou o braço ao redor de seus ombros. A mãe fez imediatamente um movimento de recuo. O doente retirou o braço e disse-lhe a mãe: Você não gosta mais de mim? O doente ruborizou-se e ela acrescentou: Querido, você não deve deixar-se incomodar e assustar tão facilmente por seus sentimentos. O doente ficou mais um minuto com a mãe e, pouco depois, agitou-se, agrediu um enfermeiro e precisou receber tratamento.
Analisando-se a situação podemos dizer que: a mãe apresenta um comportamento afetivo positivo, uma oferta ou uma aproximação; a criança responde, reduzindo a distância.
A mãe exibe então, por um movimento de recuo, seu temor de uma relação excessivamente íntima. Ao mesmo tempo destrói o sentido de sua mensagem, seja negando o próprio afastamento, seja questionando o gesto da criança em relação a ela e o sentido que poderia ter.
Logo, podemos dizer que, uma manipulação eficaz consiste não
Somente duplo vincular mas também pôr em dúvida a experiência íntima da criança, como por exemplo: Vá deitar-se, você está muito cansado. A mãe confunde os sinais de sua própria fadiga por detrás de uma definição da vivência da criança, em nome do afeto que lhe dedica.
Esse tipo de mensagem ainda tem muitos outros exemplos, tais como: Você realmente não pensa assim; ou Você me entende, não é?; Ou ainda Você não deve sentir vergonha. A ambigüidade de tais mensagens depende do tom, do contexto, da rejeição dos comentários etc., ou seja, depende enfim da introdução de diversas negações e denegações, desconfirmações e desqualificações em mensagens de aparência simples.
“A criança cresce na impossibilidade de comunicar algo sobre a comunicação, o que tem como resultado a incapacidade de determinar o que as pessoas querem realmente dizer e a incapacidade de exprimir o que ela própria quer dizer”.
No caso do recebimento de um duplo vínculo, como já dito anteriormente, a criança-vítima, por sua vez, adquiriria muito cedo um modo de comunicação ambígua e passaria a aplicar também o duplo vínculo, isso, pensando em um nível psicoterapêutico, poderia contribuir para a dificuldade da relação psicoteráptica com o esquizofrênico, capaz de colocar seus terapeutas na incerteza das pseudo-relações.
Colocando-se no ponto em que o duplo vínculo é recebido, como no exemplo do triângulo anteriormente (eu minto; tudo o que escrevo é falso) ou em outra mensagem dúbia qualquer, podemos dizer sem sombra de dúvidas que é impossível responder a mensagens duplas e contraditórias, é impossível metacomunicar-se:
Sendo afetivamente importantes, essas mensagens recebidas determinam uma sucessão de tensões: falha na análise lógica das mensagens, confusão subjetiva e distúrbios do pensamento, fala ou ações que manifestam o desarranjo. Isso cria uma resposta incompleta ou globalmente inadequada, que irá determinar, em contrapartida, uma resposta que a condene.
Duplo Vínculo e a fabricação da loucura – síntese
Podemos dizer então que a visão da origem da esquizofrenia da
Antipsiquiatria vai contra a abordagem organicista da doença mental proposta desde o princípio pela psiquiatria, colocando-se então o universo relacional do indivíduo como uma de suas possíveis causas das enfermidades mentais.
Sendo assim, um indivíduo que é duplo vinculado durante sua vida inteira – colocando sua existência em questão - e não tendo uma visão certa de seus sentimentos e dos sentimentos dos outros, tende a ficar permanentemente confusa ao ponto de se tornar louca ao longo de seu desenvolvimento.
O duplo vínculo existe hoje na maioria de nossas famílias e em nossas relações, principalmente por estarmos vindo de um regime militar (aqui no Brasil) chamado de ditadura e que, segundo João Francisco Duarte Junior esse regime acaba por influenciar a família que, por sua vez, também se torna ditadora. Algumas é que são muito rígidas e repressoras e controlam a vida de seus filhos ao ponto dos mesmos não saberem distinguir quem são ou o que os outros querem que eles sejam.
Sendo assim, na maioria dos casos, preferindo ser o que os pais querem que eles sejam (deixando seus desejos de lado) a fim de não perderem o amor dos mesmos e o que é pior, não serem punidos.
O duplo vínculo é passado de gerações a gerações quase que despercebido pela própria família, segundo Roberto Freire, só se torna um duplo-vinculador um indivíduo que foi duplo vinculado.
Mas, podemos analisar também outro lado desta patologia da comunicação que, de certa forma, mostra que a ambigüidade algumas vezes também é necessária: sem ela, a vida não seria mais que uma troca interminável de mensagens estilizadas, um jogo repleto de regras rígidas, monótono e desprovido de surpresa e humor.
CONCLUSÃO
A antipsiquiatria, apesar de sua forte crítica, não descarta a existência de determinados desvios do comportamento ocasionados por problemas físicos (orgânicos), como por exemplo as doenças mentais causadas pela epilepsia, pela sífilis e pelos tumores no cérebro (entre outras). Minha conclusão a princípio é igual a uma velha conclusão sobre uma antiga questão da psicologia: O que mais está presente na constituição do indivíduo, sua hereditariedade ou o seu meio social? A mesma coisa ocorre neste estudo, o que gera realmente a esquizofrenia, fatores psicoquímicos (orgânicos) ou o meio social (duplo vínculo)? Em ambas as respostas, podemos dizer hoje que, tanto uma como a outra são estudos amplamente interessantes e discutíveis mas que devemos ter em mente ambas as teorias. Isto é, tanto uma como a outra estão certas, logo poderíamos dizer que o homem é constituído 50% através de sua hereditariedade e 50% constituído através do seu meio social, assim como a origem da esquizofrenia pode ser 50% orgânica e 50% social.
Pra que esse estudo então? Bem, este estudo me proporcionou (e espero que pra você também) uma maior atenção na comunicação humana. Hoje em dia é fácil observar indivíduos do cotidiano que aplicam o duplo vínculo em outras pessoas. Quantas vezes alguém lhe disse que está bem quando na verdade você percebe no tom de voz que não está nada bem? Pois é, aí já se encontra um duplo vínculo e que, se você tivesse um vínculo muito forte com essa pessoa a resposta ambígua dela lhe seria preocupante. Ao questionar o porquê do estudo da antipsiquiatria e do duplo vínculo dentro da Somaterapia de Roberto Freire, descobri também que, o duplo vínculo é a principal arma de dominação nas relações interpessoais e através das descobertas de seus mecanismos, na descoberta de quem está ou não duplo vinculando é que se está livre desta manipulação. O Soma ao trabalhar com indivíduos enfatiza a sinceridade nas relações humanas, pois é muito melhor ser sincero, dizendo um não do que transmitir uma mensagem dúbia (um sim e um não ao mesmo tempo, isto é, um sim em forma de não e um não em forma de sim).
Pra finalizar, vale a pena dizer mais uma vez que, “(...) quando uma pessoa recebe um duplo vínculo de outra sem que haja um componente afetivo, essa comunicação não surte efeito. Ele só causa confusão e culpa quando existe a ameaça subjetiva da retirada afetiva”.
BIBLIOGRAFIA
BENOIT, Jean-Claude. Vínculos Duplos – Paradoxos familiares dos esquizofrênicos. São Paulo, Zahar, 1982
BOSSEUR, Chantal. Introdução à antipsiquiatria. Rio de Janeiro, Zahar, 1976
COOPER, David. Psiquiatria e Antipsiquiatria. São Paulo, Editora Perspectiva, 1967
COOPER, David. A morte da Família. São Paulo, Editora Marins Fontes, 2º ed., 1986
FALCÃO, Daniela. Tá todo mundo louco... São Paulo, Revista da Folha, ano 6, nº. 299. 1998
FREIRE, Roberto e MATA, João da. Soma – Uma terapia anarquista. São Paulo. Vol.3, 2º ed. Sol e Chuva. 1993
GRANDINO, Adilson e NOGUEIRA, Durval. Conceito de Psiquiatria. São Paulo, ed.Ática, 1985
JACCARD, Roland. A loucura. São Paulo, 1º ed., Zahar Editores S.A., 1981.
JUNIOR, João Francisco Duarte. A política da loucura – a antipsiquiatria. Campinas, ed.Papirus, 1983
PRADO, Danda. O que é família. São Paulo: Brasiliense, 1981 (Primeiros Passos, 50).
WATZLAWICK, Paul e BEAVIN, Janet H. e JACKSON, Don D. Pragmática da comunicação humana: um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação. São Paulo, Ed.Cultrix, 1967
A descoberta do duplo vínculo ou double bind surgiu em 1956, através de estudos realizados pelo antropólogo Gregory Bateson no departamento de sociologia e antropologia da Universidade de Stanford em Palo Alto (Califórnia). Este estudo originou-se em 1952 quando Bateson juntamente com sua equipe, decidiram estudar os intercâmbios familiares onde se encontrava inserido o esquizofrênico, mais especificamente sobre suas formas de comunicação, gerando assim, estudos mais profundos sobre a patologia da comunicação (neste caso, o duplo vínculo) que era comum nessas famílias.
Esse estudo, denominado posteriormente como Toward a theory of Schizophrenia (Por uma teoria da esquizofrenia) escrito em apenas 20 páginas foi assinado por quatro grande nomes: Don D. Jackson, J. Haley, J.H.Weakland e G.Bateson. Ele nos mostra a intensidade das inter-relações, mesclando mensagens complexas (verbais ou comportamentais) nos seus níveis lógicos, evidentes ou mesmo mais abstratos (visível somente a um observador atento) que, querendo ou não, passam a interferir no comportamento humano: esquizofrenizado ou não os indivíduos dentro do seu universo interfamiliar.
Isto quer dizer que, dentre as famílias em que existia um esquizofrênico e que foram estudadas, foi descoberto um tipo de comunicação paradoxal, um tipo de comunicação ambígua e que, segundo observações, eram constantes na vida do indivíduo esquizofrênico, passando ele próprio a viver nessa ambigüidade, ele
Próprio a viver seu paradoxo.
A Comunicação Humana – Um pouco de sua teoria
A teoria do duplo vínculo está dentro da abordagem sistêmica da doença mental, isto é, está dentro de uma abordagem que possui uma visão sistemática da origem da esquizofrenia, tendo como base principal a comunicação humana.
Perguntando o porquê de se estudar a comunicação humana, cabe deixar claro que a comunicação é uma condição estritamente necessária da vida humana e da ordem social mais ampla. Desde o início de sua existência, um indivíduo se encontra envolvido num complexo processo de aquisição de regras de comunicação, possuindo apenas uma noção mínima daquilo em que consiste esse corpo de regras.
Muitas teorias da comunicação se restringem a estudar a comunicação como um fenômeno unilateral, isto é, do elocutor para o ouvinte, esquecendo-se que a comunicação se dá num processo muito mais complexo, num processo de interação.
A comunicação é, sem sombra de dúvidas, um dos primeiros fenômenos que promove o relacionamento entre o indivíduo e o mundo. É a primeira condição humana que estará sempre presente nas relações interpessoais do indivíduo enquanto um ser que interage com seu meio social.
Apesar de mudarmos um pouco nossa linha de raciocínio apresentada desde o início deste trabalho, é interessante agora darmos uma breve introdução sobre como funciona, como se dá a comunicação em si, partindo para uma breve introdução da teoria da comunicação sobre seu ponto de vista lógico, matemático e sistêmico.
Observando a estrutura da comunicação humana, podemos dizer que a mesma se dá basicamente através de três áreas: da sintaxe, da semântica e da pragmática; e que estas três constituem o estudo da semiótica (teoria geral de sinais e linguagens).
Destas três áreas, a sintaxe é a que abrange mais os problemas da transmissão da informação. Preocupa-se com o problema de código, canais, capacidade, ruído, redundância e outras propriedades estatísticas da linguagem. Estes problemas são puramente sintáticos e não estão preocupados com o significado dos símbolos das mensagens.
O significado das mensagens é o interesse principal da semântica. É interessante observar que, mesmo que a transmissão semântica dos significados pela sintaxe fosse perfeita, não adiantaria nada se tanto o emissor ou o receptor da mensagem não conhecesse o significado da mensagem enviada. Daí podemos compreender melhor a importância da semântica.
O último dos três é o seu aspecto pragmático (e o mais importante para nós). Constitui-se no fato de que o comportamento humano é afetado pela comunicação. Assim sendo, “os dados da pragmática são, não só as palavras, suas configurações e significados, que constituem os dados da sintaxe e da semântica, mas também seus concomitantes não-verbais e a linguagem do corpo.” A partir dessa fala, podemos dizer que, todo comportamento, não só a fala, é comunicação; e que toda a comunicação, não só através da fala, afeta o comportamento.
Resumidamente, a comunicação se processa então por três partes: Na primeira é passada sinteticamente a informação (sintaxe), depois a informação é decodificada através da sua significação (semântica) e, em último, ela passa a afetar o comportamento (pragmática). Este seria o fluxo normal de uma comunicação bem sucedida, derivando para a idéia que temos de relação ou mesmo de interação.
O estudo da teoria do duplo vínculo nas famílias de esquizofrênicos constitui-se então em um estudo do distúrbio do fluxo normal que a comunicação deveria ter, isto é, a comunicação/mensagem passada é dúbia passando a pôr em dúvida toda a complexidade da comunicação, deixando o fluxo normal da mensagem à mercê de uma comunicação paradoxal.
Comunicação Paradoxal – Introdução ao Paradoxo
Historicamente, há mais de dois mil anos o paradoxo tem fascinado a mente humana e somente agora com o desenvolvimento das áreas da lógica, matemática e epistemologia – e que estão intimamente ligadas ao desenvolvimento da teoria da prova, da teoria dos tipos lógicos e dos problemas de coerência, computabilidade, determinabilidade e outros semelhantes – é que se abrangeu um estudo mais detalhado sobre o paradoxo, demonstrando que existe algo em sua natureza que é de importância pragmática (comportamental) e até existencial para todos nós.
A princípio, “o paradoxo pode ser definido como uma contradição que resulta de uma dedução correta a partir de premissas coerentes”; isto é, numa linguagem mais fácil, o paradoxo é o que se diz de uma preposição ao mesmo tempo verdadeira e falsa, ou que contraria o bom senso, ou ainda que vá de encontro à oposição admitida e coerente. Essa definição pode ser enriquecida pela evocação de idéias colaterais: sarcasmo, ironia, sofisma, antífrase, silogismo, antinomia, ou ainda idéias próximas: má fé, contraverdade, falsidade, ambivalência, hipocrisia, ambigüidade, lugar comum, farsa, etc. Isso concerne tanto à lógica quanto à moral.
Voltando-se para os sistemas lógicos e matemáticos, existem ainda três tipos de paradoxos; cada um correspondendo às três áreas da teoria da comunicação vista anteriormente (sintaxe, semântica e pragmática):
A primeira delas são as antinomias (paradoxo da sintaxe). Para se entender melhor, uma antinomia se define como um enunciado que é simultaneamente contraditório e demonstrável. Como por exemplo nesta fórmula: temos dois enunciados, Ef que significa a negação do segundo, que é Ev. Logo, os dois podem ser combinados num terceiro enunciado, Ek; formando-se assim uma fórmula demonstrável do primeiro paradoxo: Ek=Ef & Ev. Explicando melhor, as Antinomias (Ek) são uma contradição formal, pois nada pode ser uma coisa e, ao mesmo tempo, não ser uma coisa; nada pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo, em uma só afirmação.
O outro tipo de paradoxo é o que difere das antinomias num aspecto importante: não ocorrem nos sistemas lógicos e matemáticos. Dão-se através de algumas incoerências ocultas na estrutura de níveis do pensamento e da linguagem. São mais conhecidos como antinomias semânticas. Paradoxos existentes na decodificação das sintaxes. Paradoxos encontrados na significação das mensagens.
Este paradoxo é a chave dos estudos da duplo vinculação. São paradoxos que surgem nas interações em desenvolvimento e que passam a determinar os comportamentos. São denominados de paradoxos pragmáticos.
Podemos observar então que, cada um dos processos básicos da comunicação possui uma comunicação paradoxal:
A sintaxe possui paradoxos lógico-matemáticos denominados antinomias.
A semântica possui paradoxos denominados de antinomias semânticas
A pragmática possui seus paradoxos pragmáticos
Isto é, resumidamente, existem disfunções (paradoxos) em cada um dos níveis da comunicação, existem formas que dão sentido dúbio na forma que a mensagem é transmitida (antinomia), na forma em que é entendida (antinomia semântica) e na forma em que afeta o comportamento (paradoxo pragmático)
Esta seria a fórmula representativa de como ocorre a comunicação paradoxal.
A prática do duplo vínculo
Voltando para uma linguagem mais simples, podemos dizer que o duplo vínculo nada mais é que duas mensagens (uma em contraposição à outra) enviadas simultaneamente que, se for utilizada sempre em uma criança (por exemplo), pode conduzi-la à loucura. Trata-se de uma forma de negar e afirmar algo ao mesmo tempo e transmitir isso através do mesmo canal de comunicação (pela fala) ou por canais de comunicação diferentes (fala e expressões gestuais ou faciais).
Esse tipo de comunicação paradoxal utilizada na relação duplo-vinculadora ocasionaria primeiramente uma confusão e, a partir daí seu uso contínuo poderia levar até a loucura. É uma forma usada para confundir uma pessoa que recebe esse tipo de mensagem, tornando-a fraca e dependente.
No entanto, a mais extraordinária e dramática descoberta da antipsiquiatria foi constatar que o duplo vínculo só funciona quando existe uma forte relação afetiva. Ela surge principalmente nas relações familiares e amorosas. Assim, é o amor o instrumento fundamental para a dominação e neurotização dos indivíduos na vida burguesa.
Vejamos um exemplo de uma situação duplo-vinculadora: Uma garota de 19 anos deseja sair de casa e morar separada de seus pais. Ela quer apenas ampliar sua liberdade sem que isso corte o relacionamento com a família. Num diálogo com a mãe ela comunica sua decisão e recebe um duplo vínculo: a mãe lhe diz estar feliz por sua filha resolver separar-se dela e, ao mesmo tempo, não consegue conter as lágrimas ao afirmar isso. Na verdade, está dizendo em palavras ser natural e saudável a independência da filha, mas afirma também pelas lágrimas que isto a fará sofrer muito.
Embora não tenha realmente dito isso, foi comunicado que a independência da filha provoca a infelicidade da mãe. Isso produz um forte sentimento de culpa na filha que, em conseqüência, pode abdicar de seu desejo de liberdade e autonomia. Nesse caso foram utilizados dois canais de comunicação (a fala e a expressão facial) na mensagem duplo-vinculadora. Mas a mãe poderia ter utilizado também (em outro exemplo) apenas um canal de comunicação: “Seu pai vai entender também, como eu, o fato de você não querer mais morar conosco, mas fale com cuidado, você sabe, ele já teve um infarto, ele gosta demais de você...”.
De uma maneira ou de outra, a criança que foi sempre educada utilizando-se o amor (através do vínculo duplo) como instrumento de dominação de seus desejos próprios acaba tornando-se apática, impotente, incompetente ou mesmo louca, assumindo assim seu falso eu, tornando-se uma esquizofrênica.
Neste exemplo houve uma comunicação paradoxal ou duplo-vinculadora, pois não se utilizou uma linguagem direta, sincera e objetiva, afirmando um não ou um sim definitivos. Caso a mãe mostrasse sua opinião clara e sincera não teria sido tão grave, pois haveria um impasse claro. O que prejudica a comunicação é o fato de existir tanto uma como outra possibilidade numa só mensagem. Esse tipo de comunicação paradoxal é constante no desenvolvimento de nossa sociedade burguesa resultando-se assim na confusão que vai deformando, alterando a compreensão dos fatores e modificando seus comportamentos. “Essa é a forma de comunicação utilizada pela família da grande maioria das pessoas que se tornam neuróticas”.
O funcionamento do duplo vínculo
Analisando o exemplo anterior, da filha que queria sair de casa, podemos observar claramente a comunicação paradoxal através da teoria da comunicação. A filha, ao receber a mensagem ambígua da mãe, que concorda (pela fala) e que não concorda (pelo choro), através da antinomia (paradoxo da sintaxe), fica em dúvida quanto ao entendimento da mensagem que recebeu (antinomia semântica) e que, devido a isso é gerada uma confusão do que a mãe queria realmente dizer, ocasionando um comportamento ambíguo: não realizando seus desejos e satisfazendo o Desejo de outros (paradoxo pragmático) ao mesmo tempo.
Para entender melhor como o paradoxo ou melhor, como a mensagem paradoxal gera confusão em um indivíduo, podemos tentar compreender a seguinte mensagem (como por exemplo):
Ao ler essa mensagem, a primeira coisa que vem à mente é uma certa confusão. Depois de ler algumas vezes você pode até pensar que entendeu a mensagem mas no fundo ainda ela está confusa pois, se eu minto e escrevi que tudo o que escrevo é falso, eu minto ou eu não minto? E, se tudo o que eu escrevo é falso e eu digo que estou mentindo, então tudo o que escrevo é ou não é falso? Enfim, são duas mensagens em que uma contradiz a outra gerando confusão em quem a recebe.
Nesse caso em especial ainda, “os sentimentos do ego são postos em questão pelos valores negativos das palavras mentir e falso”
Sendo assim, podemos pensar que, uma criança que recebe sempre uma mensagem duplo-vinculadora de seus pais, um ser que desde as origens do seu desenvolvimento vive sempre numa confusão em seus processos cognitivos tende a se desenvolver fora dos padrões considerados normais pela sociedade, tende a se desenvolver em sua própria confusão através da confusão entre os planos verbais e comportamentais da comunicação.
Os Ingredientes do duplo vínculo
Bateson, Don Jackson, Haley e Weakland descreveram os ingredientes de um vínculo duplo:
Trata-se sempre de relações entre duas ou mais pessoas, sendo uma delas a vítima, aquela que é duplo vinculada.
Essa experiência se repete ao longo da existência da vítima. (não ocasionando traumas específicos).
Emite-se uma injunção primária negativa, combinada de uma ameaça. Como por exemplo: Não faça isso, caso contrário eu o punirei; ou Se você não fizer isso, eu o punirei. Para o duplo vínculo ter seu efeito, sabe-se que as relações devem ter carga afetiva, logo nesse exemplo é enfatizado o caráter punitivo da mensagem apontando uma expressão de ódio ou da cólera, ou ainda “essa espécie de abandono que decorre da expressão, por parte dos pais, de sua profunda confusão”
O quarto ingrediente é uma injunção secundária em conflito com a primeira. Esta injunção encontra-se num nível de abstração mais elevado que a primeira por constituir-se de uma antinomia. Muitas vezes torna-se difícil de descrevê-la pois freqüentemente é transmitida através de uma forma paraverbal, como a modulação da voz, dos gestos ou da postura. De uma forma ou de outra, ela acaba negando a primeira. Ex: Não me encare como responsável por sua punição; ou Não leve em conta minhas proibições.
O ingrediente mais importante está na injunção negativa terciária que proíbe à vítima qualquer escapatória. Para a criança é impossível fugir da relação vital que representam os adultos que a cercam. Por vezes, o bloqueio é substituído pela ambigüidade.
O último aspecto é igualmente fundamental no estudo de situações relacionais concretas.Qualquer reação desencadeada de um
Vínculo duplo gera uma reação emocional (paradoxo pragmático)
Sendo assim, os mesmos autores ainda colocaram os três pontos principais que marcam esse tipo de situação:
A relação em questão é essencial, o que confere um valor vital à compreensão correta da mensagem.
O protagonista que aplica o vínculo duplo emite duas espécies de mensagens contraditórias.
A vítima se acha incapacitada de metacomunicar-se, de comentar ou de pedir esclarecimentos quanto às mensagens recebidas.
Resultante destes ingredientes, surgiram dois postulados básicos: o primeiro diz que a situação pode desempenhar um papel significativo na etiologia e nos sintomas clínicos das esquizofrenias e a segunda diz que a primeira se constitui no cerne da relação familiar, bem antes do aparecimento da doença.
Na relação do duplo vínculo com a esquizofrenia é interessante observarmos que um sujeito que se vê confrontado com essas injunções paradoxais, quando a revolta lhe é impossível e quando uma resposta lhe é exigida, o modo mais direto de reação consiste na expressão metafórica, ou seja, simultaneamente, que possa ser interpretada de maneiras múltiplas (antinomia semântica), resposta essa tão paradoxal quanto a injunção paradoxal. Os sintomas de esquizofrenia então, seguindo essa teoria sistêmica da doença mental são, da mesma forma, modos diferentes de respostas analógicas ambíguas e de respostas sem respostas.
Sendo assim:
O esquizofrênico se identifica como um indivíduo não identificável. Suprime não apenas o sentido das palavras e das frases nas trocas, mas também os sinais comportamentais que indicam em que contexto afetivo se situam essas mensagens. Pode até mesmo retirar-se por completo da relação, negando sua própria presença.
Encontramos assim as três grandes formas clínicas de esquizofrenia, segundo o estudo da comunicação. Na forma paranóide, é solicitado ao imaginário privado, contendo imagens, mitos e palavras que chegam até a criar uma ruptura com o imaginário coletivo, apesar de manter o vínculo inicial com ele. Na herbefrênica, a resposta afetiva a outrem é feita sob a forma da ambivalência, mesclando-se a intensidade relacional com a frieza e a hipersensibilidade com a habitual diferença. A catatônica, coloca o distúrbio das relações no nível comportamental: um rosto que não reage ao contato, o retraimento e o mau humor patológico, a rigidez cérea, etc.
Colocando um indivíduo no duplo vínculo
É fácil observar a manipulação constante da distância relacional nas famílias em que há um esquizofrênico, basta analisar as condutas de aproximação e afastamento das mesmas.
Vejamos um exemplo.
A mãe de um jovem esquizofrênico foi ao hospital visitar seu filho, que estava em franca recuperação após um episódio psicótico agudo. O doente apareceu feliz por reencontrar sua mãe. Acolheu-a com espontaneidade e colocou o braço ao redor de seus ombros. A mãe fez imediatamente um movimento de recuo. O doente retirou o braço e disse-lhe a mãe: Você não gosta mais de mim? O doente ruborizou-se e ela acrescentou: Querido, você não deve deixar-se incomodar e assustar tão facilmente por seus sentimentos. O doente ficou mais um minuto com a mãe e, pouco depois, agitou-se, agrediu um enfermeiro e precisou receber tratamento.
Analisando-se a situação podemos dizer que: a mãe apresenta um comportamento afetivo positivo, uma oferta ou uma aproximação; a criança responde, reduzindo a distância.
A mãe exibe então, por um movimento de recuo, seu temor de uma relação excessivamente íntima. Ao mesmo tempo destrói o sentido de sua mensagem, seja negando o próprio afastamento, seja questionando o gesto da criança em relação a ela e o sentido que poderia ter.
Logo, podemos dizer que, uma manipulação eficaz consiste não
Somente duplo vincular mas também pôr em dúvida a experiência íntima da criança, como por exemplo: Vá deitar-se, você está muito cansado. A mãe confunde os sinais de sua própria fadiga por detrás de uma definição da vivência da criança, em nome do afeto que lhe dedica.
Esse tipo de mensagem ainda tem muitos outros exemplos, tais como: Você realmente não pensa assim; ou Você me entende, não é?; Ou ainda Você não deve sentir vergonha. A ambigüidade de tais mensagens depende do tom, do contexto, da rejeição dos comentários etc., ou seja, depende enfim da introdução de diversas negações e denegações, desconfirmações e desqualificações em mensagens de aparência simples.
“A criança cresce na impossibilidade de comunicar algo sobre a comunicação, o que tem como resultado a incapacidade de determinar o que as pessoas querem realmente dizer e a incapacidade de exprimir o que ela própria quer dizer”.
No caso do recebimento de um duplo vínculo, como já dito anteriormente, a criança-vítima, por sua vez, adquiriria muito cedo um modo de comunicação ambígua e passaria a aplicar também o duplo vínculo, isso, pensando em um nível psicoterapêutico, poderia contribuir para a dificuldade da relação psicoteráptica com o esquizofrênico, capaz de colocar seus terapeutas na incerteza das pseudo-relações.
Colocando-se no ponto em que o duplo vínculo é recebido, como no exemplo do triângulo anteriormente (eu minto; tudo o que escrevo é falso) ou em outra mensagem dúbia qualquer, podemos dizer sem sombra de dúvidas que é impossível responder a mensagens duplas e contraditórias, é impossível metacomunicar-se:
Sendo afetivamente importantes, essas mensagens recebidas determinam uma sucessão de tensões: falha na análise lógica das mensagens, confusão subjetiva e distúrbios do pensamento, fala ou ações que manifestam o desarranjo. Isso cria uma resposta incompleta ou globalmente inadequada, que irá determinar, em contrapartida, uma resposta que a condene.
Duplo Vínculo e a fabricação da loucura – síntese
Podemos dizer então que a visão da origem da esquizofrenia da
Antipsiquiatria vai contra a abordagem organicista da doença mental proposta desde o princípio pela psiquiatria, colocando-se então o universo relacional do indivíduo como uma de suas possíveis causas das enfermidades mentais.
Sendo assim, um indivíduo que é duplo vinculado durante sua vida inteira – colocando sua existência em questão - e não tendo uma visão certa de seus sentimentos e dos sentimentos dos outros, tende a ficar permanentemente confusa ao ponto de se tornar louca ao longo de seu desenvolvimento.
O duplo vínculo existe hoje na maioria de nossas famílias e em nossas relações, principalmente por estarmos vindo de um regime militar (aqui no Brasil) chamado de ditadura e que, segundo João Francisco Duarte Junior esse regime acaba por influenciar a família que, por sua vez, também se torna ditadora. Algumas é que são muito rígidas e repressoras e controlam a vida de seus filhos ao ponto dos mesmos não saberem distinguir quem são ou o que os outros querem que eles sejam.
Sendo assim, na maioria dos casos, preferindo ser o que os pais querem que eles sejam (deixando seus desejos de lado) a fim de não perderem o amor dos mesmos e o que é pior, não serem punidos.
O duplo vínculo é passado de gerações a gerações quase que despercebido pela própria família, segundo Roberto Freire, só se torna um duplo-vinculador um indivíduo que foi duplo vinculado.
Mas, podemos analisar também outro lado desta patologia da comunicação que, de certa forma, mostra que a ambigüidade algumas vezes também é necessária: sem ela, a vida não seria mais que uma troca interminável de mensagens estilizadas, um jogo repleto de regras rígidas, monótono e desprovido de surpresa e humor.
CONCLUSÃO
A antipsiquiatria, apesar de sua forte crítica, não descarta a existência de determinados desvios do comportamento ocasionados por problemas físicos (orgânicos), como por exemplo as doenças mentais causadas pela epilepsia, pela sífilis e pelos tumores no cérebro (entre outras). Minha conclusão a princípio é igual a uma velha conclusão sobre uma antiga questão da psicologia: O que mais está presente na constituição do indivíduo, sua hereditariedade ou o seu meio social? A mesma coisa ocorre neste estudo, o que gera realmente a esquizofrenia, fatores psicoquímicos (orgânicos) ou o meio social (duplo vínculo)? Em ambas as respostas, podemos dizer hoje que, tanto uma como a outra são estudos amplamente interessantes e discutíveis mas que devemos ter em mente ambas as teorias. Isto é, tanto uma como a outra estão certas, logo poderíamos dizer que o homem é constituído 50% através de sua hereditariedade e 50% constituído através do seu meio social, assim como a origem da esquizofrenia pode ser 50% orgânica e 50% social.
Pra que esse estudo então? Bem, este estudo me proporcionou (e espero que pra você também) uma maior atenção na comunicação humana. Hoje em dia é fácil observar indivíduos do cotidiano que aplicam o duplo vínculo em outras pessoas. Quantas vezes alguém lhe disse que está bem quando na verdade você percebe no tom de voz que não está nada bem? Pois é, aí já se encontra um duplo vínculo e que, se você tivesse um vínculo muito forte com essa pessoa a resposta ambígua dela lhe seria preocupante. Ao questionar o porquê do estudo da antipsiquiatria e do duplo vínculo dentro da Somaterapia de Roberto Freire, descobri também que, o duplo vínculo é a principal arma de dominação nas relações interpessoais e através das descobertas de seus mecanismos, na descoberta de quem está ou não duplo vinculando é que se está livre desta manipulação. O Soma ao trabalhar com indivíduos enfatiza a sinceridade nas relações humanas, pois é muito melhor ser sincero, dizendo um não do que transmitir uma mensagem dúbia (um sim e um não ao mesmo tempo, isto é, um sim em forma de não e um não em forma de sim).
Pra finalizar, vale a pena dizer mais uma vez que, “(...) quando uma pessoa recebe um duplo vínculo de outra sem que haja um componente afetivo, essa comunicação não surte efeito. Ele só causa confusão e culpa quando existe a ameaça subjetiva da retirada afetiva”.
BIBLIOGRAFIA
BENOIT, Jean-Claude. Vínculos Duplos – Paradoxos familiares dos esquizofrênicos. São Paulo, Zahar, 1982
BOSSEUR, Chantal. Introdução à antipsiquiatria. Rio de Janeiro, Zahar, 1976
COOPER, David. Psiquiatria e Antipsiquiatria. São Paulo, Editora Perspectiva, 1967
COOPER, David. A morte da Família. São Paulo, Editora Marins Fontes, 2º ed., 1986
FALCÃO, Daniela. Tá todo mundo louco... São Paulo, Revista da Folha, ano 6, nº. 299. 1998
FREIRE, Roberto e MATA, João da. Soma – Uma terapia anarquista. São Paulo. Vol.3, 2º ed. Sol e Chuva. 1993
GRANDINO, Adilson e NOGUEIRA, Durval. Conceito de Psiquiatria. São Paulo, ed.Ática, 1985
JACCARD, Roland. A loucura. São Paulo, 1º ed., Zahar Editores S.A., 1981.
JUNIOR, João Francisco Duarte. A política da loucura – a antipsiquiatria. Campinas, ed.Papirus, 1983
PRADO, Danda. O que é família. São Paulo: Brasiliense, 1981 (Primeiros Passos, 50).
WATZLAWICK, Paul e BEAVIN, Janet H. e JACKSON, Don D. Pragmática da comunicação humana: um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação. São Paulo, Ed.Cultrix, 1967
ESQUIZOFRENIAS
São várias as tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as Psicoses que, embora provenientes de diversos momentos históricos do pensamento psicológico, estimulam bastante as discussões sobre o tema. Temos o modelo Sociogênico, no qual a sociedade, complexa e exigente, é a responsável exclusiva pelo enlouquecimento humano. Temos também o modelo Organogênico, diametralmente oposto ao anterior, onde os elementos orgânicos da função cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental. Tem ainda o enfoque Psicogênico, onde a dinâmica psíquica é responsável pela doença e subestimam-se as disposições constitucionais. Há ainda o modelo Organodinâmico, que compatibiliza todos três anteriores, onde participariam requizitos biológicos, motivos psicológicos e determinantes sociais. Na realidade esse modelo é mais comnhecido como Bio-Psico-Social Tem sido quase unanimemente aceito na psiquiatria clínica a associação de determinadas configurações de personalidade predispostas e a eclosão de psicoses. Estas personalidades são as chamadas Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é abordado neste trabalho no capítulo sobre os nstornos da Personalidade; constituições que por si transtornam a vida do indivíduo ou incapacitam um desenvolvimento pleno, ou ainda, em certas circunstâncias, encerram uma maior aptidão para o desenvolvimento de determinadas doenças psíquicas. A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia como uma variação do existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o desenvolvimento de certa vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo "possibilidade" deve ser considerado em toda sua plenitude, ou seja, um carater não-obrigatório mas que deve ser levado muito a sério. Clinicamente e a grosso modo, podemos dizer que as neuroses diferenciam-se das psicoses pelo grau de envolvimento da personalidade, sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas nas psicoses. O vínculo com a realidade é muito mais tênue e frágil nas psicoses que nas neuroses, nestas a realidade não é negada mas vivida de maneira mais sofrível, valorizada e percebida de acordo com as lentes da afetividade e representada de acordo com as exigências conflituais. Já nas psicoses, alguns aspectos da realidade são negados e substituídos por concepções particulares e peculiares que atendem unicamente às características da doença. A sintomatologia psicótica caracteriza-se, principalmente, pelas alterações a nível do pensamento e da afetividade e, conseqüentemente, todo comportamento e toda performance existencial do indivíduo serão comprometidos. Na psicose o pensamento e a afetividade se apresentam qualitativamente alterados, tal como uma novidade cronologicamente delimitada na história de vida do paciente e que passa a atuar morbidamente em toda sua performance psíquica. Essa alteração confere ao paciente uma maneira patológica de representar a realidade, de elaborar conceitos e de relacionar-se com o mundo objectual. Não contam tanto aqui as variações quantitativas de apercepção do real, como pode ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e qualitativamente distinto de todas nuances anteriormente permitidas, um algo essencialmente patológico, mórbido e sofrível. 1 - Esquizofrenia (Psicose Esquizofrênica) A Esquizofrenia é uma doença da Personalidade total que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospresa a razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias. Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico baseia-se exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres. Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de dois elementos: uma causa predisponente, atrelada à personalidade, e uma causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia, depois de muitos anos de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com palavras atualizadas. O principal modelo para a integração dos fatores etiológicos da esquizofrenia é o modelo estresse-diátese, o qual supõe o indivíduo possuidor de uma vulnerabilidade específica colocada sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante). Em determinadas circunstâncias o binômio diátese-estresse proporcionaria condições para o desenvolvimento da esquizofrenia. Até que um fator etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece satisfazer as teorias mais aceitas sobre o assunto. Através da CID-10 foi incluída na classificação das esquizofrenias o Transtorno Esquizotípico. Na realidade não acreditamos tratar-se de mais um tipo da doença, mas de um estágio da mesma doença. Sabendo-se os sintomas gerais, básicos e de primeira ordem das esquizofrenias, podemos entender o Transtorno Esquizotípico como sendo uma fase pré-mórbida da psicose: mais sério que o Transtorno Esquizóide de Personalidade e menos mórbido que a Esquizofrenia franca. Tanto está certa esta visão que o próprio CID-10 considera este transtorno como sinônimo de Esquizofrenia Prodrômica (Inicial), Borderline (limítrofe), ou Pré-Psicótica. Os sintomas característicos da esquizofrenia podem ser agrupados, genericamente, em 2 tipos: positivos e negativos. Os sintomas positivos são os mais floridos e exuberantes, tais como as alucinações (mais freqüentemente, as auditivas e visuais e, menos freqüentes as táteis, e olfativas), os delírios (persecutórios, de grandeza, de ciúmes, somáticos, místicos, fantásticos), perturbações da forma e do curso do pensamento (como incoerência, prolixidade, desagregação), comportamento desorganizado, bizarro, agitação psicomotora e mesmo negligência dos cuidados pessoais. Os sintomas negativos são, geralmente, de déficits, ou seja, a pobreza do conteúdo do pensamento e da fala, embotamento ou rigidez afetiva, prejuízo do pragmatismo, incapacidade de sentir emoções, incapacidade de sentir prazer, isolamento social, diminuição de iniciativa e diminuição da vontade. Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico. Seriam: 1- audição dos próprios pensamentos (sob a forma de vozes) 2- alucinações auditivas que comentam o comportamento do paciente 3- alucinações somáticas 4- sensação de ter os próprios pensamentos controlados 5- irradiação destes pensamentos 6- sensação de ter as ações controladas e influenciadas por alguma coisa do exterior. Tentando agrupar a sintomatologia da esquizofrenia para sintetizar os principais tratadistas, teremos destacados três atributos da atividade psíquica: comportamento, afetividade e pensamento. Os Delírios surgem como alterações do conteúdo do pensamento esquizofrênico e as alucinações como pertencentes à sensopercepção. Ambos acabam sendo causa e/ou conseqüência das alterações nas 3 áreas acometidas pela doença (comportamento, afetividade e pensamento). Delírios Os delírios, sintoma carro chefe da Esquizofrenia, são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a interpretação falsa de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas, como por exemplo, a perseguição (persecutórios), referenciais, somáticos, religiosos, ou grandiosos. Os delírios persecutórios são os mais comuns. Neles a pessoa acredita estar sendo atormentada, seguida, enganada, espionada ou ridicularizada. Os delírios de referência também são comuns; neles a pessoa crê que certos gestos, comentários, passagens de livros, um delírio e uma idéia vigorosamente mantida às vezes é difícil, e depende do grau de convicção com o qual a crença é mantida, apesar de evidências nitidamente contrárias. Os Delírios na Esquizofrenia podem sugerir ainda uma interpretação falsa da realidade percebida. É o caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas simplesmente conversando. Trata-se, neste caso, de uma Percepção Delirante. Desta forma, a Percepção Delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no caso, duas pessoas conversando). Outras vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como por exemplo, julgar-se deus. Neste caso trata-se de uma Ocorrência Delirante. O tipo de Delírio mais freqüentemente encontrado na Esquizofrenia é do tipo Paranóide ou de Referência, ou seja, com temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e de que todos se referem ao paciente (rádios, vizinhos, televisão, etc) no segundo caso. Na Esquizofrenia os Delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas íntimas aos pacientes. Em relação ao Delírio de Referência, inicialmente os familiares começam à perceber uma certa aversão à televisão, aos vizinhos, etc. Embora os delírios bizarros sejam considerados especialmente característicos da Esquizofrenia, pode ser difícil avaliar o grau de "bizarria", especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros se são claramente implausíveis e incompreensíveis e não derivam de experiências comuns da vida. Um exemplo de delírio bizarro é a crença de uma pessoa de que um estranho retirou seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra, sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos. Um exemplo de delírio não-bizarro é a falsa crença de estar sob vigilância policial. Os delírios que expressam uma perda de controle sobre a mente ou o corpo (isto é, aqueles incluídos na lista de sintomas de primeira ordem de Schneider) geralmente são considerados bizarros; eles incluem a crença da pessoa de que seus pensamentos foram retirados por alguma força externa (extração de pensamentos), que pensamentos estranhos foram colocados em sua mente (inserção de pensamentos) ou que seu corpo ou ações estão sendo manipulados por alguma força externa (delírios de controle). Se os delírios são considerados bizarros, este sintoma isolado já basta para satisfazer o Critério A para Esquizofrenia. Alucinações As alucinações, outro sintoma típico (mas não exclusivo) da Esquizofrenia, podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial, ou seja, auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis. As alucinações auditivas são, de longe, as mais comuns e características da Esquizofrenia, sendo geralmente experimentadas como vozes conhecidas ou estranhas, que são percebidas como distintas dos pensamentos da própria pessoa. O conteúdo pode ser bastante variável, embora as vozes pejorativas ou ameaçadoras sejam especialmente comuns. Certos tipos de alucinações auditivas, como por exemplo ouvir duas ou mais vozes conversando entre si ou comentando os pensamentos ou o comportamento da pessoa, têm sido considerados particularmente característicos da Esquizofrenia e foram incluídos na lista de sintomas de primeira ordem de Schneider. A desorganização do pensamento é defendida por alguns autores, como Bleuler, em particular, como o aspecto mais importante da Esquizofrenia. Em vista da dificuldade inerente ao exame do pensamento, este será feito pela qualidade do discurso do paciente, portanto, o conceito de discurso desorganizado foi salientado na definição de Esquizofrenia usada neste manual. As Alucinações mais comuns na Esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em seguida. Conforme diz Schneider, "de valor diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma Esquizofrenia são determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar alto), vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação do doente". Esta Sonorização do Pensamento, juntamente com alguns outros sintomas que envolvem alucinações auditivas e sensações de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos, compõem a sintomatologia que Schneider considerou como sendo de Primeira Ordem. Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma de comentários e antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como por exemplo: "ele vai comer" ou ainda, "o que ele está fazendo agora ? Está trocando de roupas". Outro sintoma importante no diagnóstico da esquizofrenia é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo subtraído ou "chupado" por algo do exterior: Subtração e Irradiação do pensamento, também considerados de Primeira Ordem. Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo controlados por forças ou influências exteriores. Início da Psicose Esquizofrênica O início da psicose depois dos quarenta e cinco anos, freqüentemente se relaciona com fatores orgânicos identificáveis e não se trata de esquizofrenia, mas a primeira preocupação deve ser sempre verificar se não se trata de um transtorno do humor grave com sintomas psicóticos. Habitualmente a irrupção da esquizofrenia se nota quando a família e os amigos observam que a pessoa mudou de comportamento, que já não é mais a mesma. A pessoa passa a funcionar mal em áreas significativas da vida cotidiana, como na escola ou trabalho, nas relações sociais e familiares. Freqüentemente há uma notável falta de interesse por cuidados com de si mesmo. Os próprios pacientes experimentam os seguintes sentimentos: A. Perplexidade No começo da doença os pacientes informam um sentimento de estranheza sobre a experiência, alguma confusão sobre de onde vêem os sintomas (normalmente alucinações) e se perguntam parque sua experiência diária tem mudado tanto. B. Isolamento A pessoa esquizofrênica experimenta uma sensação intensa de ser diferente dos demais e de estar separada de outras pessoas. O isolamento social e a evitação de contactos tornam-se evidente. C. Ansiedade e Terror Em geral a experiência cotidiana está invadida por uma sensação geral de mal estar e ansiedade. Evidenciam-se os períodos de terror intenso, causado por um mundo dentro do qual tudo parece perigoso e incontrolável, normalmente atribuído a origens externas e mágicas. Sintomas de Primeira Ordem (Schneider) Sonorização do pensamento Subtração do pensamento Irradiação do pensamento (ou difusão) Sensação de ações controladas Todas as demais alucinações, auditivas, visuais, tácteis, olfatórias, gustativas, cenestésicas e cinestésicas, embora sejam consideradas sintomas acessórios por Bleuler, aparecem na esquizofrenia com freqüência bastante significativa. Normalmente as alucinações auditivas são as primeiras a aparecer e as últimas a sumir. Classificação das Psicoses - DSM.IV Transtorno Esquizofrênico .....Tipo Paranóide .....Tipo Desorganizado .....Tipo Catatônico .....Tipo Indiferenciado .....Tipo Residual
Conhecendo a Esquizofrenia: Desconstruindo linguagens e ações estigmatizadoras
Às vezes - o destino não se esquece -
as grades estão abertas,
as almas estão despertas:
às vezes,
quando quanda,
quando à hora,
quando os deuses,
de repente
- entes -
a gente
se encontra.
(Guimarães Rosa)
Os transtornos mentais constituem um universo de sofrimento que muitos evitam olhar porque espelham os medos, a ignorância e os limites humanos. As pessoas que sofrem de transtornos mentais graves nos incomodam com seu sofrimento e as pessoas diagnosticadas com esquizofrenia representam um dos grupos que recebe maior carga de julgamento e rejeição social. Sabemos, pois muito já foi escrito, das razões históricas, econômicas, sociais, psicológicas e políticas do estigma associado aos transtornos mentais. Conhecemos, categorizamos e explicamos tal fenômeno. No entanto, seguimos estigmatizando e excluindo.
Sintomas como delírios e alucinações desafiam o senso comum e a nossa crença numa realidade única e evidente, compartilhada por todos. Além disso, o doente freqüentemente apresenta comportamentos sociais inadequados e atitudes bizarras que não são usualmente compreendidas e toleradas. As pessoas que sofrem desse transtorno permanecem marginalmente incluídas ou francamente excluídas dos cenários cotidianos e de ambientes sociais e de trabalho – e desta forma, não nos incomodam.
Como é a experiência do lado de quem sofre?
Muitas pessoas que têm esquizofrenia nunca chegam a ser diagnosticadas ou tratadas. Vivem discretamente recolhidas em seu mundo, apenas pedindo para não serem perturbadas. Há os que habitam as ruas, os nossos “loucos de rua”, e há aqueles que se tornam “pacientes psiquiátricos”, passando a fazer parte de um sistema de tratamento que tenta responder às demandas clínicas, sociais e legais, sem, entretanto possuir recursos suficientes para tal.
Muitos, ainda que seguindo algum tratamento, não se sentem propriamente doentes. Atribuem os problemas decorrentes dos sintomas a causas externas, interpretando aquilo que vivem, por exemplo, como uma experiência mística ou grandiosa. Para alguns, a dúvida entre perceber e aceitar a doença e sentir que são dotados de poderes especiais ou divinos nunca se desfaz. A questão de como conviver com a experiência de sentir (ou ter sentido, em algum momento) o mundo e a realidade de forma tão diferente é um desafio que se impõe a quem já passou por esta experiência. De qualquer modo, essas vivências contribuem para gerar dificuldades nas relações, podem criar obstáculos para a convivência familiar e social e freqüentemente constituem barreiras para a participação em atividades e tarefas de estudo, trabalho e reuniões sociais.
Por outro lado, aqueles que, em função da evolução mais favorável da doença e/ou melhores condições de tratamento podem conscientizar-se das dificuldades e limitações e com o tempo desenvolver estratégias paras lidar com elas, vão enfrentar enormes desafios ao procurarem manter-se social ou profissionalmente ativos. Não revelar a doença, por exemplo, é freqüentemente uma estratégia imprescindível para que se conquiste aceitação em determinados ambientes. Es sa atitude, entretanto, gera sobrecarga e aumenta a desvantagem destas pessoas que, em função de sua doença, geralmente enfrentam com dificuldade as pressões “normais” de determinadas demandas de trabalho, de estudo ou mesmo sociais. A falta de sistemas de apoio ou de esquemas alternativos e flexíveis, que acomodem suas necessidades especiais só faz aumentar a solidão e contribui r para um provável fracasso em suas tentativas. Com isso, não é difícil entender porque tantos portadores de esquizofrenia recolhem-se em seu canto e cultivam o isolamento como estratégia de sobrevivência.
Os familiares que convivem com o doente também vivem estas dificuldades. É difícil entender inicialmente o que se passa com o “doente” e a busca de tratamento é penosa. Em geral, este não acha que necessita ser tratado; os vizinhos pensam que deve ser possessão e sugerem um tratamento espiritual; outros dizem que é caso de polícia, porque o sujeito está, de fato, “alterado”: cismou que o estão perseguindo, ficou agressivo e quebrou tudo, criando confusão com todo mundo... E, quando finalmente alguém toma a iniciativa de levar a pessoa a um médico ou chamar o serviço de resgate, esse atendimento traz algum alívio para a crise instalada, mas não ajuda a coordenar os próximos passos de uma longa jornada.
- “Isso é estresse, vai passar”, “tome esses remédios e volte daqui a um mês...”, “está deprimido, mas vai melhorar...” são respostas freqüentes às perguntas aflitas de familiares perplexos diante da experiência do surto psicótico. A quem recorrer? Quem pode ajudá-los a entender o que se passa e a encontrar caminhos para conviver com uma doença que afeta tão profundamente a vida de todos na família?
Na esfera do tratamento, a falta de informações adequadas não ajuda os pacientes e familiares a desenvolverem estratégias para lidar com as dificuldades no cotidiano e reproduz a discriminação fundada na crença de que “não adianta explicar, eles não entendem...”. Por muito tempo, profissionais atribuíram o sofrimento de seus pacientes ao desequilíbrio ou à falta de estrutura familiar saudável, ancorados no conceito de que a família seria em grande parte responsável pela doença. As teorias que postularam ser a esquizofrenia uma doença resultante de relações familiares doentias (mais especificamente mãe-filho), embora nunca confirmadas, contribuíram para perpetuar as dificuldades de relação entre profissionais e familiares e geraram barreiras de comunicação que até hoje impedem a criação de estratégias de colaboração no contexto de tratamento.
Na população em geral, prevalece o total desconhecimento ou a noção de que o “esquizofrênico” é perigoso, violento, ou preguiçoso, alguém em quem não se pode confiar. Com isso, os portadores de esquizofrenia enfrentam todo tipo de dificuldade para conseguir voltar (ou começar) a trabalhar, para reatar relacionamentos e recuperar a esperança de levar uma vida digna.
Contribuem para aumentar esse estigma também a representação do doente mental como vilão nas novelas e filmes de ficção e o apreço sensacionalista da mídia por notícias de atos violentos, freqüente e levianamente associados à esquizofrenia. Além disso, nas redações de revistas e jornais de grande circulação, “esquizofrênico” é um adjetivo comumente empregado para descrever pessoas, contextos e condições em que p redominam ambivalência, confusão, divisão ou incoerência. Uma prática infeliz, que só colabora para aumentar a desinformação sobre a doença, alimentando, na população, a associação entre rótulos negativos e esquizofrenia.
Assim, a desinformação sobre a esquizofrenia segue contribuindo para perpetuar, em todos os níveisde relações sociais, incluindo-se aí as relações entre pacientes e profissionais de saúde mental, os mitos sobre a doença que afetam negativamente o tratamento e as oportunidades de integração social destas pessoas.
O principal combustível do estigma é a desinformação; seu maior dano, a desvantagem social.
A desvantagem social é, sem dúvida, o preço maior pago pelo estigma da esquizofrenia. Do ponto de vista de quem sofre, a desvantagem começa pela falta de tratamento adequado. Em muitos casos, pacientes levam anos até encontrar um local que ofereça assistência adequada, onde a medicação prescrita seja corretamente orientada, em que o paciente e seus familiares recebam informações e sejam acolhidos em suas questões e conflitos. Poucos são os serviços que oferecem abordagens terapêuticas que efetivamente possam auxiliar essas pessoas a desenvolver recursos para retornar ao convívio social. Sabemos que tratamentos menos efetivos produzem resultados menos positivos. Estes pacientes, inadequadamente tratados, seguem julgados improdutivos, preguiçosos, irresponsáveis e vão confirmando, desta maneira, o mito de que não há tratamento eficaz para a esquizofrenia.
Mas o estigma da esquizofrenia não afeta apenas as pessoas que sofrem deste transtorno e seus familiares. A discriminação e o preconceito estendem-se e envolvem os profissionais e os serviços de tratamento psiquiátrico . Nessa esfera o estigma aparece, por exemplo, através da desvalorização social do trabalhador de saúde mental, na falta de investimentos públicos em políticas e serviços efetivos de saúde mental. Os profissionais são mal preparados, mal remunerados e pouco reconhecidos. As instituições e os serviços, precariamente equipados. Os profissionais responsáveis pelo cuidado direto dos pacientes no sistema hospitalar, nos serviços de pronto-atendimento ou hospitais-dia são, em geral, aqueles que receberam menos treinamento e acesso a informações. Atendentes e auxiliares de enfermagem, por exemplo, encontram-se diariamente frente a situações de crise, cuidando de pacientes agitados, agressivos e confusos. Que orientação ou suporte institucional recebem para desempenhar o seu trabalho? Essas pessoas nem sempre estão num serviço psiquiátrico por opção; o seu despreparo e falta de motivação revelam também, o desinteresse e o desinvestimento que envolve o sistema psiquiátrico, contribuindo para perpetuar o círculo vicioso da estigmatização.
REFERÊNCIAS
Sartorius, N. One of the last obstacles to better mental health care: the stigma of mental illness. Em: Guimón J, Fischer W, Sartorius N (eds): The Image of Madness. The Public Facing Mental Illness and Psychiatric Treatment. Basel, Karger,1999, pp 96-104.
Terapeuta Ocupacional e Terapeuta de Família. Membro do Setor Multiplicadores Reflexivos.Coordenadora do Projeto S.O.eSq. no Brasil
www.soesq.org.br
as grades estão abertas,
as almas estão despertas:
às vezes,
quando quanda,
quando à hora,
quando os deuses,
de repente
- entes -
a gente
se encontra.
(Guimarães Rosa)
Os transtornos mentais constituem um universo de sofrimento que muitos evitam olhar porque espelham os medos, a ignorância e os limites humanos. As pessoas que sofrem de transtornos mentais graves nos incomodam com seu sofrimento e as pessoas diagnosticadas com esquizofrenia representam um dos grupos que recebe maior carga de julgamento e rejeição social. Sabemos, pois muito já foi escrito, das razões históricas, econômicas, sociais, psicológicas e políticas do estigma associado aos transtornos mentais. Conhecemos, categorizamos e explicamos tal fenômeno. No entanto, seguimos estigmatizando e excluindo.
Sintomas como delírios e alucinações desafiam o senso comum e a nossa crença numa realidade única e evidente, compartilhada por todos. Além disso, o doente freqüentemente apresenta comportamentos sociais inadequados e atitudes bizarras que não são usualmente compreendidas e toleradas. As pessoas que sofrem desse transtorno permanecem marginalmente incluídas ou francamente excluídas dos cenários cotidianos e de ambientes sociais e de trabalho – e desta forma, não nos incomodam.
Como é a experiência do lado de quem sofre?
Muitas pessoas que têm esquizofrenia nunca chegam a ser diagnosticadas ou tratadas. Vivem discretamente recolhidas em seu mundo, apenas pedindo para não serem perturbadas. Há os que habitam as ruas, os nossos “loucos de rua”, e há aqueles que se tornam “pacientes psiquiátricos”, passando a fazer parte de um sistema de tratamento que tenta responder às demandas clínicas, sociais e legais, sem, entretanto possuir recursos suficientes para tal.
Muitos, ainda que seguindo algum tratamento, não se sentem propriamente doentes. Atribuem os problemas decorrentes dos sintomas a causas externas, interpretando aquilo que vivem, por exemplo, como uma experiência mística ou grandiosa. Para alguns, a dúvida entre perceber e aceitar a doença e sentir que são dotados de poderes especiais ou divinos nunca se desfaz. A questão de como conviver com a experiência de sentir (ou ter sentido, em algum momento) o mundo e a realidade de forma tão diferente é um desafio que se impõe a quem já passou por esta experiência. De qualquer modo, essas vivências contribuem para gerar dificuldades nas relações, podem criar obstáculos para a convivência familiar e social e freqüentemente constituem barreiras para a participação em atividades e tarefas de estudo, trabalho e reuniões sociais.
Por outro lado, aqueles que, em função da evolução mais favorável da doença e/ou melhores condições de tratamento podem conscientizar-se das dificuldades e limitações e com o tempo desenvolver estratégias paras lidar com elas, vão enfrentar enormes desafios ao procurarem manter-se social ou profissionalmente ativos. Não revelar a doença, por exemplo, é freqüentemente uma estratégia imprescindível para que se conquiste aceitação em determinados ambientes. Es sa atitude, entretanto, gera sobrecarga e aumenta a desvantagem destas pessoas que, em função de sua doença, geralmente enfrentam com dificuldade as pressões “normais” de determinadas demandas de trabalho, de estudo ou mesmo sociais. A falta de sistemas de apoio ou de esquemas alternativos e flexíveis, que acomodem suas necessidades especiais só faz aumentar a solidão e contribui r para um provável fracasso em suas tentativas. Com isso, não é difícil entender porque tantos portadores de esquizofrenia recolhem-se em seu canto e cultivam o isolamento como estratégia de sobrevivência.
Os familiares que convivem com o doente também vivem estas dificuldades. É difícil entender inicialmente o que se passa com o “doente” e a busca de tratamento é penosa. Em geral, este não acha que necessita ser tratado; os vizinhos pensam que deve ser possessão e sugerem um tratamento espiritual; outros dizem que é caso de polícia, porque o sujeito está, de fato, “alterado”: cismou que o estão perseguindo, ficou agressivo e quebrou tudo, criando confusão com todo mundo... E, quando finalmente alguém toma a iniciativa de levar a pessoa a um médico ou chamar o serviço de resgate, esse atendimento traz algum alívio para a crise instalada, mas não ajuda a coordenar os próximos passos de uma longa jornada.
- “Isso é estresse, vai passar”, “tome esses remédios e volte daqui a um mês...”, “está deprimido, mas vai melhorar...” são respostas freqüentes às perguntas aflitas de familiares perplexos diante da experiência do surto psicótico. A quem recorrer? Quem pode ajudá-los a entender o que se passa e a encontrar caminhos para conviver com uma doença que afeta tão profundamente a vida de todos na família?
Na esfera do tratamento, a falta de informações adequadas não ajuda os pacientes e familiares a desenvolverem estratégias para lidar com as dificuldades no cotidiano e reproduz a discriminação fundada na crença de que “não adianta explicar, eles não entendem...”. Por muito tempo, profissionais atribuíram o sofrimento de seus pacientes ao desequilíbrio ou à falta de estrutura familiar saudável, ancorados no conceito de que a família seria em grande parte responsável pela doença. As teorias que postularam ser a esquizofrenia uma doença resultante de relações familiares doentias (mais especificamente mãe-filho), embora nunca confirmadas, contribuíram para perpetuar as dificuldades de relação entre profissionais e familiares e geraram barreiras de comunicação que até hoje impedem a criação de estratégias de colaboração no contexto de tratamento.
Na população em geral, prevalece o total desconhecimento ou a noção de que o “esquizofrênico” é perigoso, violento, ou preguiçoso, alguém em quem não se pode confiar. Com isso, os portadores de esquizofrenia enfrentam todo tipo de dificuldade para conseguir voltar (ou começar) a trabalhar, para reatar relacionamentos e recuperar a esperança de levar uma vida digna.
Contribuem para aumentar esse estigma também a representação do doente mental como vilão nas novelas e filmes de ficção e o apreço sensacionalista da mídia por notícias de atos violentos, freqüente e levianamente associados à esquizofrenia. Além disso, nas redações de revistas e jornais de grande circulação, “esquizofrênico” é um adjetivo comumente empregado para descrever pessoas, contextos e condições em que p redominam ambivalência, confusão, divisão ou incoerência. Uma prática infeliz, que só colabora para aumentar a desinformação sobre a doença, alimentando, na população, a associação entre rótulos negativos e esquizofrenia.
Assim, a desinformação sobre a esquizofrenia segue contribuindo para perpetuar, em todos os níveisde relações sociais, incluindo-se aí as relações entre pacientes e profissionais de saúde mental, os mitos sobre a doença que afetam negativamente o tratamento e as oportunidades de integração social destas pessoas.
O principal combustível do estigma é a desinformação; seu maior dano, a desvantagem social.
A desvantagem social é, sem dúvida, o preço maior pago pelo estigma da esquizofrenia. Do ponto de vista de quem sofre, a desvantagem começa pela falta de tratamento adequado. Em muitos casos, pacientes levam anos até encontrar um local que ofereça assistência adequada, onde a medicação prescrita seja corretamente orientada, em que o paciente e seus familiares recebam informações e sejam acolhidos em suas questões e conflitos. Poucos são os serviços que oferecem abordagens terapêuticas que efetivamente possam auxiliar essas pessoas a desenvolver recursos para retornar ao convívio social. Sabemos que tratamentos menos efetivos produzem resultados menos positivos. Estes pacientes, inadequadamente tratados, seguem julgados improdutivos, preguiçosos, irresponsáveis e vão confirmando, desta maneira, o mito de que não há tratamento eficaz para a esquizofrenia.
Mas o estigma da esquizofrenia não afeta apenas as pessoas que sofrem deste transtorno e seus familiares. A discriminação e o preconceito estendem-se e envolvem os profissionais e os serviços de tratamento psiquiátrico . Nessa esfera o estigma aparece, por exemplo, através da desvalorização social do trabalhador de saúde mental, na falta de investimentos públicos em políticas e serviços efetivos de saúde mental. Os profissionais são mal preparados, mal remunerados e pouco reconhecidos. As instituições e os serviços, precariamente equipados. Os profissionais responsáveis pelo cuidado direto dos pacientes no sistema hospitalar, nos serviços de pronto-atendimento ou hospitais-dia são, em geral, aqueles que receberam menos treinamento e acesso a informações. Atendentes e auxiliares de enfermagem, por exemplo, encontram-se diariamente frente a situações de crise, cuidando de pacientes agitados, agressivos e confusos. Que orientação ou suporte institucional recebem para desempenhar o seu trabalho? Essas pessoas nem sempre estão num serviço psiquiátrico por opção; o seu despreparo e falta de motivação revelam também, o desinteresse e o desinvestimento que envolve o sistema psiquiátrico, contribuindo para perpetuar o círculo vicioso da estigmatização.
REFERÊNCIAS
Sartorius, N. One of the last obstacles to better mental health care: the stigma of mental illness. Em: Guimón J, Fischer W, Sartorius N (eds): The Image of Madness. The Public Facing Mental Illness and Psychiatric Treatment. Basel, Karger,1999, pp 96-104.
Terapeuta Ocupacional e Terapeuta de Família. Membro do Setor Multiplicadores Reflexivos.Coordenadora do Projeto S.O.eSq. no Brasil
www.soesq.org.br
CARTAS DE UM ESQUIZOFRÊNICO A UM AMIGO
Meu caro Renato,
Fico-lhe muito agradecido pela visita do final de semana. Não pude responder todas as suas indagações em relação à clínica devido ao pouco tempo reservado à visita; por isso estou lhe escrevendo.
No dia seguinte a sua visita, fomos transferidos à nova ala da clínica. Fica no fundo do edifício, com portas para o corredor, por aonde se vai ao pátio. Mas não foram todos os internos, somente os residentes crônicos.
Na antiga ala, do lado oposto a nossa, ficou os residentes temporários. Os temporários são aqueles pacientes que os médicos dizem ter possibilidades de cura. Na maioria são os depressivos e os portadores de traumas psíquicos.
Os esquizofrênicos como eu e alguns outros são os residentes crônicos tratáveis; os outros crônicos são apenas apaziguados em suas loucuras. Estes estão internados para sempre. Nós os tratáveis, somos como bola de pingue-pongue, vamos para casa, mas a temporada é sempre curta, e voltamos para uma longa aqui.
Alguns crônicos têm certos privilégios, como eu tenho de ter lápis e bloco para escrever; para outros, um lápis estaria, em muito pouco tempo, inteiramente mastigado. Os crônicos também estão divididos em “caminhantes” - como eu - e “vegetais” - os que deixaram de caminhar. Estes permanecem imóveis, mudos, sem um gesto, encostados as paredes ou sentados e sepultados até os ombros nos sofás, poltronas e cadeiras; como se todos fossem sombras do nada! Nada do nada! Na verdade, a maioria de nós não passa de máquinas com defeitos internos que não podem ser reparados. Defeito provocado em alguma parte da gestação ou da vida.
Há alguns residentes crônicos em quem “eles” cometeram uma série de erros há anos. Como o professor Ari que era apenas um depressivo e foi definitivamente danificado quando eles carregaram demais naquela sala, no subsolo da clinica, que chamamos de “O Inferno de Dante”. Agora ele vive encostado à parede, no mesmo estado em que eles o tiraram da mesa pela última vez, com o mesmo terror no rosto. Fica assim, pregado a parede como um troféu empalhado. Os enfermeiros o levam quando está na hora de comer ou de ir para a cama; ou, então o mudam de lugar para que possam limpar a poça que ficou no lugar que estava. Houve outro que estava incomodando demais, chutando e mordendo os internos; saiu de lá com os olhos cinzentos, esfumaçados, vazios. Agora ele não faz outra coisa o dia inteiro senão segurar uma velha fotografia que de tanto manuseá-la ficou gasta dos dois lados, de forma que não sabemos o que é, ou o que era.
Atualmente, o tratamento por choque, em geral, são bem sucedidos; os “eletricistas” adquiriram mais habilidade e experiência. Mas quem quer que entre lá, sai a coisa mais doce, mais boazinha, mais bem comportada que já se viu.
Bem, por aqui vou fazer ponto, em outra lhe explico as outras indagações.
Receba um forte abraço do velho amigo Maluco Beleza
Fico-lhe muito agradecido pela visita do final de semana. Não pude responder todas as suas indagações em relação à clínica devido ao pouco tempo reservado à visita; por isso estou lhe escrevendo.
No dia seguinte a sua visita, fomos transferidos à nova ala da clínica. Fica no fundo do edifício, com portas para o corredor, por aonde se vai ao pátio. Mas não foram todos os internos, somente os residentes crônicos.
Na antiga ala, do lado oposto a nossa, ficou os residentes temporários. Os temporários são aqueles pacientes que os médicos dizem ter possibilidades de cura. Na maioria são os depressivos e os portadores de traumas psíquicos.
Os esquizofrênicos como eu e alguns outros são os residentes crônicos tratáveis; os outros crônicos são apenas apaziguados em suas loucuras. Estes estão internados para sempre. Nós os tratáveis, somos como bola de pingue-pongue, vamos para casa, mas a temporada é sempre curta, e voltamos para uma longa aqui.
Alguns crônicos têm certos privilégios, como eu tenho de ter lápis e bloco para escrever; para outros, um lápis estaria, em muito pouco tempo, inteiramente mastigado. Os crônicos também estão divididos em “caminhantes” - como eu - e “vegetais” - os que deixaram de caminhar. Estes permanecem imóveis, mudos, sem um gesto, encostados as paredes ou sentados e sepultados até os ombros nos sofás, poltronas e cadeiras; como se todos fossem sombras do nada! Nada do nada! Na verdade, a maioria de nós não passa de máquinas com defeitos internos que não podem ser reparados. Defeito provocado em alguma parte da gestação ou da vida.
Há alguns residentes crônicos em quem “eles” cometeram uma série de erros há anos. Como o professor Ari que era apenas um depressivo e foi definitivamente danificado quando eles carregaram demais naquela sala, no subsolo da clinica, que chamamos de “O Inferno de Dante”. Agora ele vive encostado à parede, no mesmo estado em que eles o tiraram da mesa pela última vez, com o mesmo terror no rosto. Fica assim, pregado a parede como um troféu empalhado. Os enfermeiros o levam quando está na hora de comer ou de ir para a cama; ou, então o mudam de lugar para que possam limpar a poça que ficou no lugar que estava. Houve outro que estava incomodando demais, chutando e mordendo os internos; saiu de lá com os olhos cinzentos, esfumaçados, vazios. Agora ele não faz outra coisa o dia inteiro senão segurar uma velha fotografia que de tanto manuseá-la ficou gasta dos dois lados, de forma que não sabemos o que é, ou o que era.
Atualmente, o tratamento por choque, em geral, são bem sucedidos; os “eletricistas” adquiriram mais habilidade e experiência. Mas quem quer que entre lá, sai a coisa mais doce, mais boazinha, mais bem comportada que já se viu.
Bem, por aqui vou fazer ponto, em outra lhe explico as outras indagações.
Receba um forte abraço do velho amigo Maluco Beleza
ANÁLISE DO FILME BICHO DE SETE CABEÇAS
O filme conta a história de Neto um personagem que tinha um relacionamento difícil com o pai. Senhor Wilson o pai de Neto, não compreendia a vida do filho querendo que ele vivesse da forma em que ele quisesse e esta cobrança e uma imagem errônea que ele tinha do filho fez com que o filho apresentasse um comportamento de revolta em relação ao pai com o intuito de afronta em relação à imagem paterna. Assim Neto começou a apresentar comportamentos agressivos e com o fato do pai descobrir que o filho estava fazendo uso de substancias psicoativas toma a iniciativa e internar-lo em um manicômio com o intuito de o filho melhorar seu comportamento e, segundo o pai, extinguir o vício que o filho tinha por estas substancias.
No manicômio Neto sem entender direito o que estava acontecendo fica muito nervoso e acha que é um mal entendido então os enfermeiros aplica o remédio nele e então ele adormece. No manicômio Neto não teve os cuidados esperado porque nem foi examinando por um profissional e foi internado somente pelas supostas conclusões dos pais. Assim surge uma angustia em Neto pela situação em que esta sendo remetida. No manicômio percebi que era um lugar despreparado para o convívio de seres humanos. Diagnósticos mal feitos, ambiente despreparado, falta de cuidado com os pacientes entre outros fatores que, em vez de contribuir para um quadro progressivo estava regredindo os pacientes para um estado nefasto, com o uso de medicamentos de uma forma desnecessária os pacientes acabaram desenvolvendo distúrbios que não contribuíam com o seu progresso. Como pude perceber distúrbios motóricos eram bem presentes entre os pacientes e pela situação em que Neto foi submetido começou a desenvolver um distúrbio cognitivo pelo fato de começar a delirar escutando vozes e também distúrbio emocional pela angústia que ele estava sentindo dentro daquele contexto.
Assim Neto já muito angustiado, não dando conta mais da situação tenta suicídio, mas é socorrido a tempo e o pai então resolve levá-lo para casa. Neste filme acredito que faltou um fator muito importante que é o dialogo, se o pai procurasse compreender o filho dialogando com ele e, compreendendo um a situação do outro talvez não chegasse a esta situação, o pai com o intuito de ajudar o filho acabou atrapalhando e fazendo com que o filho adquirisse uma angústia muito grande em relação a este fato marcante.
No manicômio Neto sem entender direito o que estava acontecendo fica muito nervoso e acha que é um mal entendido então os enfermeiros aplica o remédio nele e então ele adormece. No manicômio Neto não teve os cuidados esperado porque nem foi examinando por um profissional e foi internado somente pelas supostas conclusões dos pais. Assim surge uma angustia em Neto pela situação em que esta sendo remetida. No manicômio percebi que era um lugar despreparado para o convívio de seres humanos. Diagnósticos mal feitos, ambiente despreparado, falta de cuidado com os pacientes entre outros fatores que, em vez de contribuir para um quadro progressivo estava regredindo os pacientes para um estado nefasto, com o uso de medicamentos de uma forma desnecessária os pacientes acabaram desenvolvendo distúrbios que não contribuíam com o seu progresso. Como pude perceber distúrbios motóricos eram bem presentes entre os pacientes e pela situação em que Neto foi submetido começou a desenvolver um distúrbio cognitivo pelo fato de começar a delirar escutando vozes e também distúrbio emocional pela angústia que ele estava sentindo dentro daquele contexto.
Assim Neto já muito angustiado, não dando conta mais da situação tenta suicídio, mas é socorrido a tempo e o pai então resolve levá-lo para casa. Neste filme acredito que faltou um fator muito importante que é o dialogo, se o pai procurasse compreender o filho dialogando com ele e, compreendendo um a situação do outro talvez não chegasse a esta situação, o pai com o intuito de ajudar o filho acabou atrapalhando e fazendo com que o filho adquirisse uma angústia muito grande em relação a este fato marcante.
Resenha A INTERDISCIPLINARIDADE E O CONHECIMENTO PSICOLOGICO
O texto começa por citar partes do discurso de Descartes. “Dividir cada dificuldade em tantas partes quanto possível e necessário para resolvê-la”;
“Por em ordem os pensamentos, começando pelos assuntos mais simples e mais fáceis para atingir paulatinamente e gradativamente, os mais complexos”.
Levando-nos a uma profunda reflexão da multidisciplinaridade e interdisciplinaridade existente na psicologia desde o seu fundamento, ou seja, a psicologia abrangendo outras ciências e/ou disciplinas. Sabemos que no mundo de hoje, com uma tecnologia avançada, com pesquisas sendo realizadas, os fenômenos acontecendo no mundo e com os seres humanos, explicações variadas por ciências diversas acontecem a todo o tempo.
Descartes foi sábio ao dizer num comentário a primeira regra enunciada nas regras para a direção do espírito, que, “se alguém quiser buscar honestamente a verdade não deve optar pela escolha de uma ciência particular; estão todas unidas entre elas e dependentes umas das outras”.
Estando claro em seu comentário a multidisciplinaridade existente em qualquer ciência, pois não somente uma ciência pode se obter a resposta e para se ter a resposta concreta devemos consultar outras ciências, lembrando que todas têm explicações abrangendo o ser humano. O significado de antropologia nos explica melhor isso, sendo o estudo acerca do ser humano, designação comum a diferentes ciências ou disciplinas cujas finalidades são descrever o ser humano e analisa-lo com base nas características biológicas e socioculturais.
Kant dizia que “O universo é uma duvida”; Descartes também cita sobre a constante duvida, “ duvidar de tudo que não seja por si mesmo evidente de modo claro e distinto”, diz ele em seu discurso do método. A duvida aqui colocada significa que não podemos acreditar naquilo que não foi realmente comprovado e só sendo comprovado se passado e aceito por outras ciências, a duvida é uma constante, sendo ela necessária em se tratando de conhecimentos no que diz respeito à psicologia, onde nem sempre ou quase nunca conseguimos respostas concretas acerca de seu principal objeto de estudo o ser humano.
Interessante também lembrar neste texto foi à retratação dos sonhos, de como se há diversas explicações dentro da própria psicologia abrangendo também o social (sociedade), explicações lógicas e consistentes, de uma situação vivenciada por nós o sonhar.
É preciso reconhecer que no campo da psicologia somente a psicanálise ousa e estabelece uma ponte entre natureza e sociedade (biologia e cultura), duas ciências em uma, tendo como ponto negativo a descaracterização, unilateralmente para algum dos campos que a constituíram, ou seja, a psicanálise se pende para o campo das ciências biológicas como medicina e adora seus pressupostos, seus modelos teóricos e de intervenção e suas metas. Mais também se descaracteriza se pende unilateralmente para o campo das ciências da cultura, seguindo uma interpretação literária, histórica ou antropológica.
Enfim o texto nos leva a um rico conhecimento de vantagens e desvantagens da multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade no conhecimento psicológico, sendo discussões intermináveis e para toda uma vida, estando à psicologia num contato amplo e variado com a boa literatura, com as obras de arte, com a mediação filosófica, com estudos históricos e antropológicos e no rico campo dos estudos psicobiológicos e etológicos.
“Por em ordem os pensamentos, começando pelos assuntos mais simples e mais fáceis para atingir paulatinamente e gradativamente, os mais complexos”.
Levando-nos a uma profunda reflexão da multidisciplinaridade e interdisciplinaridade existente na psicologia desde o seu fundamento, ou seja, a psicologia abrangendo outras ciências e/ou disciplinas. Sabemos que no mundo de hoje, com uma tecnologia avançada, com pesquisas sendo realizadas, os fenômenos acontecendo no mundo e com os seres humanos, explicações variadas por ciências diversas acontecem a todo o tempo.
Descartes foi sábio ao dizer num comentário a primeira regra enunciada nas regras para a direção do espírito, que, “se alguém quiser buscar honestamente a verdade não deve optar pela escolha de uma ciência particular; estão todas unidas entre elas e dependentes umas das outras”.
Estando claro em seu comentário a multidisciplinaridade existente em qualquer ciência, pois não somente uma ciência pode se obter a resposta e para se ter a resposta concreta devemos consultar outras ciências, lembrando que todas têm explicações abrangendo o ser humano. O significado de antropologia nos explica melhor isso, sendo o estudo acerca do ser humano, designação comum a diferentes ciências ou disciplinas cujas finalidades são descrever o ser humano e analisa-lo com base nas características biológicas e socioculturais.
Kant dizia que “O universo é uma duvida”; Descartes também cita sobre a constante duvida, “ duvidar de tudo que não seja por si mesmo evidente de modo claro e distinto”, diz ele em seu discurso do método. A duvida aqui colocada significa que não podemos acreditar naquilo que não foi realmente comprovado e só sendo comprovado se passado e aceito por outras ciências, a duvida é uma constante, sendo ela necessária em se tratando de conhecimentos no que diz respeito à psicologia, onde nem sempre ou quase nunca conseguimos respostas concretas acerca de seu principal objeto de estudo o ser humano.
Interessante também lembrar neste texto foi à retratação dos sonhos, de como se há diversas explicações dentro da própria psicologia abrangendo também o social (sociedade), explicações lógicas e consistentes, de uma situação vivenciada por nós o sonhar.
É preciso reconhecer que no campo da psicologia somente a psicanálise ousa e estabelece uma ponte entre natureza e sociedade (biologia e cultura), duas ciências em uma, tendo como ponto negativo a descaracterização, unilateralmente para algum dos campos que a constituíram, ou seja, a psicanálise se pende para o campo das ciências biológicas como medicina e adora seus pressupostos, seus modelos teóricos e de intervenção e suas metas. Mais também se descaracteriza se pende unilateralmente para o campo das ciências da cultura, seguindo uma interpretação literária, histórica ou antropológica.
Enfim o texto nos leva a um rico conhecimento de vantagens e desvantagens da multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade no conhecimento psicológico, sendo discussões intermináveis e para toda uma vida, estando à psicologia num contato amplo e variado com a boa literatura, com as obras de arte, com a mediação filosófica, com estudos históricos e antropológicos e no rico campo dos estudos psicobiológicos e etológicos.
Quem é o psicólogo clínico?
Pode-se definir psicologia clinica como sendo uma das subáreas de atuação da psicologia que destina – se a investigar e intervir no âmbito da saúde mental. O psicólogo clínico possui a especificidade de aperfeiçoar aspectos interpessoais e intrapessoais, além dos aspectos relacionados à história de vida do paciente. A ação desse profissional é requerida em situações de crise individual ou grupal, ou quando sucedem perturbações de comportamento ou personalidade. Um fenômeno várias vezes descrito é a dominância da clínica nas representações sociais do psicólogo como nas preferências dos estudantes de psicologia. Ao elevado status do clínico em comparação a outras identidades profissionais do psicólogo, a questão é: isso está equivocado, um modismo, preconceitos, ou apenas ignorância... O clínico é o que atende em consultório particular, a esta confusão, associa-se a que diz respeito à clientela, o clínico é o que atende clientes particulares, sendo assim caberia assinalar a confusão que diz- se a respeito ao regime de trabalho, onde o clínico seria um profissional liberal. Hoje há inúmeros exemplos de como a clínica psicológica pode ser exercida em condições muito diversas. Situa-se que a psicologia básica à aplicada, a clínica seria uma das possíveis aplicações do conhecimento básico psicológico, onde nem tudo o que ocorreu no passado merece ser tomado como modelo para esta concepção, pois, antes de Freud iniciar a clínica e a psicanálise, não havia o conhecimento básico disponível para tal. Uma confusão gerada entre a psicologia educacional escolar, a organizacional e a experimental à psicologia clínica refere-se ao ponto que como se o clínico e os demais psicólogos não se interessassem por métodos e técnicas e se todos os demais não se interessassem pela dinâmica psíquica, como se o clínico não se interessasse por problemas de aprendizagem, institucionais e organizacionais. Todavia, o tratamento curativo para estas questões acontecem na clínica, em oposição a intervenções preventivas que incidem no nível da vida coletiva e institucional, ou seja, as questões do campo da clínica e as demais áreas, estão inteiramente ligadas.
É importante ressaltar uma tarefa á clínica psicológica, a escuta, onde é a razão social e histórica do prestígio da mesma, já que as demais áreas de intervenções como a escolar e trabalho foram menos sensíveis e aptas a responder essas demandas.
“Há um tipo de conhecimento que é produzido na clínica e só nela, ser Psicólogo é uma imensa responsabilidade. É também uma notável dádiva, pois recebemos o dom de usar a palavra, o olhar, as expressões, e até mesmo o silêncio. O dom de tirar, lá de dentro o melhor que temos para cuidar, fortalecer, compreender, aliviar…”
É importante ressaltar uma tarefa á clínica psicológica, a escuta, onde é a razão social e histórica do prestígio da mesma, já que as demais áreas de intervenções como a escolar e trabalho foram menos sensíveis e aptas a responder essas demandas.
“Há um tipo de conhecimento que é produzido na clínica e só nela, ser Psicólogo é uma imensa responsabilidade. É também uma notável dádiva, pois recebemos o dom de usar a palavra, o olhar, as expressões, e até mesmo o silêncio. O dom de tirar, lá de dentro o melhor que temos para cuidar, fortalecer, compreender, aliviar…”
Convergências e Divergências
A questão das correntes de pensamento em psicologia de Luiz Claudio Figueiredo tem como tema principal a fragmentação do conhecimento psicológico, do qual ele extrai e elucida vários pontos pertinentes para compreensão dessa condição “moribunda” da psicologia.
O autor sito que o próprio Luiz Alfredo Garcia-Roza referi-se à psicologia como “um espaço de dispersão” fazendo alusão à história da corrente de pensamento, que por si expressa à desunião, donde ao longo de cerca de quarenta anos, as duas ultimas décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX surgiram, quase que simultaneamente, as grandes propostas de apreensão teóricas do psicólogo ou do comportamental. Apartir desses acontecimentos viu-se a consolidação de micro comunidades relativamente independentes cada qual com sua crença, seu método seus objetivos, suas imagens e suas histórias particulares. Não sendo completa a independência embora fosse forte o sentimento de segmentação.
Esta tendência ao sectarismo das abordagens psicológicas segundo Figueiredo tem repercussão na graduação em psicologia donde os alunos tanto percebem uma convergência das disciplinas para um desfecho harmônico teórico, como outrora observam um desarranjo entre as correntes provocando um sentimento de mal-estar que se pode tornar ocasionalmente em um episódio de angústia. A manifestação dessa angústia pode ser mascarada, como diz o autor por duas reações típicas e perniciosas: “o dogmatismo e o ecletismo”. No primeiro caso, o psicólogo em formação ou já formado tranca-se dentro de suas crenças e ensurdece para tudo que possa contestá-las. No segundo adotam-se indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos para exercício da profissão.
Estas duas defesas têm algo em comum, ambas bloqueiam o acesso à experiência como forma negadora da angústia gerada pela incongruência das linhas de pensamento distintas. No caso do dogmatismo e elementar a supra-afirmação de que se o sujeito agarrar a uma linha não deixara as outras, de antemão desqualificadas, interferirem no “processo”. A posição eclética lançando mão de todas as teorias de forma leviana acaba-se por se perder em um âmbito perigoso impossibilitando o sujeito de conhecer realmente ou cabalmente as teorias, levando-o até ao aceitamento do senso comum como viável, dando pouca ou nenhuma consolidação ao trabalho.
Indagando-se a respeito da possibilidade de reverter ou anular essa situação da psicologia o autor elabora a eminente e imperiosa necessidade de criar uma classe pensadora e pesquisadora capaz de tomar um processo em busca de uma consolidação da psicologia embasada no projeto fundacionista, ou seja, uma busca por uma epistemologia consolidadora de uma base para um sistema adjacente evolutivo (como o sistema Baconiano e Cartesiano). Não obstante com um contra-senso perturbador, diz, que este abandono às questões epistemológicas “vem a calhar” devido à impossibilidade ou dificuldade de verificar quais autores foram mais fidedignos e científicos sendo que esses últimos tinham noções conceituais distintas sobre: comportamento, teoria, verdade, etc.
Por fim o autor traz a conceituação de matrizes e suas variáveis na história, donde matrizes, proposto primeiramente por Kuhnn (1974) que viria posteriormente substituir o termo paradigma menos adequado para o tema: “o espaço psi como espaço de dispersão” denominaria justamente esta pluralidade de sentido conceitual que as várias matrizes e não mais correntes atribuíam aos fenômenos observados. As matrizes denominadas pelo autor no contexto histórico seriam científicas: oriundas daquelas psicologias fundamentadas nas ciências naturais. Românticas: de oposição ao racionalismo iluminista e ao império matemático e do método. E pós-românticas: resgatadoras de grandes questões colocadas pelas matrizes românticas da qual são originarias.
Resolutamente o autor com um discurso apológico tendente à modéstia vem defender sua falhitude humana a cerca do assunto, elaborando que seu trabalho inclinavasse mais a uma revisão histórica dos acontecimentos psicológicos dos últimos séculos é não uma tentativa de solução do tema proposto; que se diga é aceitável, mas não compreensível.
O autor sito que o próprio Luiz Alfredo Garcia-Roza referi-se à psicologia como “um espaço de dispersão” fazendo alusão à história da corrente de pensamento, que por si expressa à desunião, donde ao longo de cerca de quarenta anos, as duas ultimas décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX surgiram, quase que simultaneamente, as grandes propostas de apreensão teóricas do psicólogo ou do comportamental. Apartir desses acontecimentos viu-se a consolidação de micro comunidades relativamente independentes cada qual com sua crença, seu método seus objetivos, suas imagens e suas histórias particulares. Não sendo completa a independência embora fosse forte o sentimento de segmentação.
Esta tendência ao sectarismo das abordagens psicológicas segundo Figueiredo tem repercussão na graduação em psicologia donde os alunos tanto percebem uma convergência das disciplinas para um desfecho harmônico teórico, como outrora observam um desarranjo entre as correntes provocando um sentimento de mal-estar que se pode tornar ocasionalmente em um episódio de angústia. A manifestação dessa angústia pode ser mascarada, como diz o autor por duas reações típicas e perniciosas: “o dogmatismo e o ecletismo”. No primeiro caso, o psicólogo em formação ou já formado tranca-se dentro de suas crenças e ensurdece para tudo que possa contestá-las. No segundo adotam-se indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos para exercício da profissão.
Estas duas defesas têm algo em comum, ambas bloqueiam o acesso à experiência como forma negadora da angústia gerada pela incongruência das linhas de pensamento distintas. No caso do dogmatismo e elementar a supra-afirmação de que se o sujeito agarrar a uma linha não deixara as outras, de antemão desqualificadas, interferirem no “processo”. A posição eclética lançando mão de todas as teorias de forma leviana acaba-se por se perder em um âmbito perigoso impossibilitando o sujeito de conhecer realmente ou cabalmente as teorias, levando-o até ao aceitamento do senso comum como viável, dando pouca ou nenhuma consolidação ao trabalho.
Indagando-se a respeito da possibilidade de reverter ou anular essa situação da psicologia o autor elabora a eminente e imperiosa necessidade de criar uma classe pensadora e pesquisadora capaz de tomar um processo em busca de uma consolidação da psicologia embasada no projeto fundacionista, ou seja, uma busca por uma epistemologia consolidadora de uma base para um sistema adjacente evolutivo (como o sistema Baconiano e Cartesiano). Não obstante com um contra-senso perturbador, diz, que este abandono às questões epistemológicas “vem a calhar” devido à impossibilidade ou dificuldade de verificar quais autores foram mais fidedignos e científicos sendo que esses últimos tinham noções conceituais distintas sobre: comportamento, teoria, verdade, etc.
Por fim o autor traz a conceituação de matrizes e suas variáveis na história, donde matrizes, proposto primeiramente por Kuhnn (1974) que viria posteriormente substituir o termo paradigma menos adequado para o tema: “o espaço psi como espaço de dispersão” denominaria justamente esta pluralidade de sentido conceitual que as várias matrizes e não mais correntes atribuíam aos fenômenos observados. As matrizes denominadas pelo autor no contexto histórico seriam científicas: oriundas daquelas psicologias fundamentadas nas ciências naturais. Românticas: de oposição ao racionalismo iluminista e ao império matemático e do método. E pós-românticas: resgatadoras de grandes questões colocadas pelas matrizes românticas da qual são originarias.
Resolutamente o autor com um discurso apológico tendente à modéstia vem defender sua falhitude humana a cerca do assunto, elaborando que seu trabalho inclinavasse mais a uma revisão histórica dos acontecimentos psicológicos dos últimos séculos é não uma tentativa de solução do tema proposto; que se diga é aceitável, mas não compreensível.
Percorrendo pela história Existencial – Fenomenológico – Humanista
O homem vivia na “escuridão” religiosa provocada pela manipulação do clero, o poder supremo. Todos os questionamentos, dúvidas, conflitos eram “resolvidos” pela Fé. O conhecimento provinha da religião e sua doutrina. Com a Renascença, que deu espaço para a expressão das artes e o conhecimento que delas emanam, o cenário antes dominado exclusivamente pela religião se alterou. A religião e seu poder ainda predominavam... Mas após a renascença estava aberta a “brecha” para a entrada de outros saberes na sociedade.
A Revolução Copernicana que intensificou a vivência de uma ruptura entre o saber coletivo e o saber individual faz emergir a subjetividade, que é o tema principal da filosofia moderna.
Diante de novas possibilidades e correntes de saberes surge o Sujeito Epistêmico, à grosso modo, é aquele que persegue os saberes que só poderia alcançar o saber de fato através de sua subjetividade, se livrando das contaminações coletivas e das manipulações se tornando assim um Sujeito Epistêmico Pleno, aquele que funde a subjetividade com a razão visando a busca de suas próprias certezas e o controle de seu destino.
A “invasão” da sociedade pelos saberes propiciou o surgimento do Sujeito Epistêmico Pleno, mas, por outro lado houve aqueles que não deram conta de conter as angústias geradas pela liberdade e pelas possibilidades e se “perderam” no trajeto da constituição da plenitude. Surge assim o sujeito da Psicologia, aquele que precisa de auxilio para se “encontrar”, é um sujeito limitado por si mesmo, um vir-a-ser.
No séc. XVIII surge o Iluminismo, que é a prática da Renascença. É a emancipação do homem através da razão (momento auge das ciências).
No séc. XIX aflora o Romantismo, o Liberalismo e o Regime Disciplinar, que contribuíram imensamente para a construção do espaço psicológico através do “jogo” antagônico do Romantismo e Liberalismo e do contraste causado pelo Regime Disciplinar que propunha organização, regras, limites...
Ainda no séc. XIX surge a Psicologia. Mas uma Psicologia “possuída” pelo ideal positivista, marcada pela objetividade. Wundt moldou a psicologia de acordo com o9s parâmetros positivistas, o que exclui da psicologia a subjetividade.
Não há psicologia sem seu objeto de estudo (o motivo de sua existência) o homem, e falar do mesmo sem envolver a subjetividade gera uma limitação. Assim a Psicologia se dividiu- Behaviorismo, Existencial Fenomenológico Humanista, Psicanálise- tendo em comum a linguagem, pela qual o sujeito e o objeto se constituem que diz diversas e diferentes formas, configurando o espaço psicológico que visa “configurar” o seu sujeito.
A Revolução Copernicana que intensificou a vivência de uma ruptura entre o saber coletivo e o saber individual faz emergir a subjetividade, que é o tema principal da filosofia moderna.
Diante de novas possibilidades e correntes de saberes surge o Sujeito Epistêmico, à grosso modo, é aquele que persegue os saberes que só poderia alcançar o saber de fato através de sua subjetividade, se livrando das contaminações coletivas e das manipulações se tornando assim um Sujeito Epistêmico Pleno, aquele que funde a subjetividade com a razão visando a busca de suas próprias certezas e o controle de seu destino.
A “invasão” da sociedade pelos saberes propiciou o surgimento do Sujeito Epistêmico Pleno, mas, por outro lado houve aqueles que não deram conta de conter as angústias geradas pela liberdade e pelas possibilidades e se “perderam” no trajeto da constituição da plenitude. Surge assim o sujeito da Psicologia, aquele que precisa de auxilio para se “encontrar”, é um sujeito limitado por si mesmo, um vir-a-ser.
No séc. XVIII surge o Iluminismo, que é a prática da Renascença. É a emancipação do homem através da razão (momento auge das ciências).
No séc. XIX aflora o Romantismo, o Liberalismo e o Regime Disciplinar, que contribuíram imensamente para a construção do espaço psicológico através do “jogo” antagônico do Romantismo e Liberalismo e do contraste causado pelo Regime Disciplinar que propunha organização, regras, limites...
Ainda no séc. XIX surge a Psicologia. Mas uma Psicologia “possuída” pelo ideal positivista, marcada pela objetividade. Wundt moldou a psicologia de acordo com o9s parâmetros positivistas, o que exclui da psicologia a subjetividade.
Não há psicologia sem seu objeto de estudo (o motivo de sua existência) o homem, e falar do mesmo sem envolver a subjetividade gera uma limitação. Assim a Psicologia se dividiu- Behaviorismo, Existencial Fenomenológico Humanista, Psicanálise- tendo em comum a linguagem, pela qual o sujeito e o objeto se constituem que diz diversas e diferentes formas, configurando o espaço psicológico que visa “configurar” o seu sujeito.
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