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terça-feira, 17 de agosto de 2010
A PRIMEIRA ENTREVISTA
Introdução
Com o objetivo de uma maior compreensão e de um melhor entendimento do método de como é realizado o primeiro contato com o cliente o autor Héctor Juan Fiorini aponta alguns pontos importantes e decisivos para o cliente em relação à continuidade ou o abandono do tratamento.
De acordo com o autor este primeiro contato com o paciente é muito importante, por isso deve ser bem estruturado, o que não acontece na prática sendo que, com freqüência essa entrevista parece confundida com o esquema tradicional de história clinica ou então com certo estilo da primeira entrevista psicanalítica.
Com o interesse de intervir nesta situação Fiorini propõe métodos que faz com que este primeiro momento seja esclarecedor que tenha uma ordem e que não realize este momento somente com o objetivo de diagnosticar o indivíduo (com um caráter investigativo), mas sim realizar intervenções adequadas durante este primeiro contato.
Com base nessa experiência, julgamos que uma primeira entrevista para psicoterapia deve e pode estruturar-se de modo definido, com traços próprios que a distinguem dos outros tipos de contato inicial.
A partir de nossa perspectiva, essa entrevista, para ser eficaz, deve cumprir, em fases sucessivas, várias tarefas:
1. Diagnóstico aproximativo inicial a partir dos dados fornecidos pelo paciente.
2. Esclarecimento inicial do terapeuta acerca da problemática formulada e da orientação terapêutica que decorre do diagnóstico dessa problemática.
3. Elaboração conjunta desse panorama por meios de reajustes progressivos.
4. Obtenção de acordos gerais sobre o sentido e os objetivos que se atribuiriam à relação terapêutica que se proponha instalar entre os dois.
5. Acordos específicos sobre as condições de funcionamento dessa relação (contato).
6. Antecipações mínimas sobre o modo de conduzir a interação na tarefa.
1- O diagnostico. A informação que o paciente fornece
O autor Héctor Juan Fiorini acredita que a primeira entrevista tem a função de estabelecer o diagnostico do paciente, de acordo com ele isso se dá através de três planos:
- Clínico e psicodinâmico: primeira síntese diagnostica através da coleta seletiva de dados referentes aos sintomas principais que motivam a consulta, tempo de evolução, bem como a família do paciente, seu clima emocional, doenças importantes. É importante pensar também na relação sucesso-fracasso do paciente em diversas áreas de sua vida, aspectos internacionais de comportamento do paciente durante a entrevista.
É interessante pensar quando o autor fala da importância da seletividade na busca de dados dos planos citados acima, ele fala que essa busca deve ser guiada por uma constante analise e síntese por parte do terapeuta, que deve se orientar para a construção de um modelo compreensivo preliminar global, clínico e psicodinâmico, ou seja, de uma maneira que esses dados serão enriquecidos e reajustados mais tarde através de outros métodos (próximas sessões, entrevista familiar, psicodiagnóstico, entre outros). Essa importância na busca de dados, de acordo com ele, relaciona-se também ao fato do paciente registrar sempre presença ou ausência de uma atividade orientadora do terapeuta, experimentando assim a segurança de estar com especialista que “sabe para onde vai”, ou a sensação contraria, sensação de duvidas e incertezas, duvidando da idoneidade do terapeuta.
O terapeuta pode fazer uma intervenção útil para evitar a incerteza inicial dando um enquadre para essa primeira entrevista esclarecendo seu sentido dos passos que deverão ser dados para atingir seus objetivos.
O diagnostico da motivação e das aptidões do paciente para psicoterapia, abrangendo diversos aspectos do comportamento, suas expectativas de cura, disposição para aceitar a psicoterapia. Alguns autores destacam a importância da transferência inicial e das fantasias de doença e cura do paciente. O paciente apresenta boa motivação para iniciar uma psicoterapia de esclarecimento se nele se podem identificar:
7. 1) O reconhecimento do caráter psicológico de seus transtornos.
8. 2) A capacidade de introspecção e sua disposição para transmitir a honestidade o que possa reconhecer de si mesmo.
9. 3) O desejo de compreender-se, atitude de participação ativa na busca.
10. 4) A disposição para experimentar, para tentar mudança.
11. 5) A esperança se que o tratamento obtenha resultados positivos.
12. 6) A disposição para realizar certos sacrifícios para chegar a esses resultados.
O diagnóstico das condições de vida do paciente. Condições estas que se vinculam a possibilidade do paciente iniciar e manter um tratamento. Questões como horário, estabilidade geográfica, situação econômica são colocadas pelo autor como pontos a serem considerados, assim como fatores contribuem para doença e recursos que possam contribuir para a cura.
2- A informação que o terapeuta desenvolve inicialmente. Esclarecimento do problema e reforço da motivação
Neste tópico o autor fala da importância para o paciente do que pensa o terapeuta sobre tudo o que ele busca. Num primeiro momento o paciente fornece informações, orientado pelo terapeuta. Num segundo momento a importância se dá através da informação que o terapeuta possa fornecer de acordo com as perguntas do paciente. Nessa entrevista cabe ao terapeuta oferecer ao paciente uma imagem global, introdutória, porem com a maior precisão possível, sobre o diagnóstico e sobre uma perspectiva de tratamento, como tempo aproximado de duração, tipo de tratamento e objetivos.
3- Confrontação entre as expectativas do paciente e a perspectiva do terapeuta. Reajustes e buscas de acordos
O autor fala de como é essencial, antes de qualquer proposta concreta de tratamento, a instalação de um dialogo aberto entre o terapeuta e o paciente acerca de suas expectativas mútuas. Os dois precisam chegar a uma zona de encontro sobre os aspectos importantes dentro do tratamento, temas como psicopatologia e psicoterapia, confusões, desacordos, ambigüidades são fatores de interferência para um eficaz cumprimento do contrato é para o funcionamento do processo terapêutico. O papel do terapeuta é, nesse contexto, incentivar questionamento, a formulação de duvidas e objeções por parte do paciente a tudo o que foi exposto. O tratamento proposto deve satisfazer certas expectativas do paciente, uma vez que isso não acontece à chance de abandono é iminente. O dialogo cumpre uma função de elucidação, capaz de reforçar a motivação inicial para aceitar uma psicoterapia. A busca ativa, por parte do terapeuta, das duvidas do paciente tem uma função de continência dirigida a partes infantis do paciente.
A elucidação das expectativas ajuda uma determinada imagem de futuro ser atualmente incluída no presente da tarefa. A explicitação dos resultados que se espera alcançar está vinculado significativamente com melhores resultados.
É muito importante que o terapeuta faça uma abertura sincera e real às objeções do paciente, dando liberdade de decisão a ele, não impondo e deixando isso bem claro, assim será possível para que o paciente aceite a proposta concreta de um contrato terapêutico de um modo mais sólido.
4 – Proposta de um contrato terapêutico. Antecipações sobre a tarefa
Os aspectos referentes sobre processo terapêutico, pode ocupar um breve período de tempo. Compreendendo especificações sobre horários e duração do tratamento. Oferecer ao paciente uma preparação mínima para facilitar o começo de sua psicoterapia, assim para o final da entrevista consiste ao psicólogo indagar que informações o paciente tem sobre o funcionamento da relação terapêutica.
Uma equipe que trabalha com psicoterapias breves em Baltimore (EUA), desenvolveram um método para este assunto, tratando-se de uma entrevista denominada “Entrevista indutora do papel do paciente”, onde um membro experiente do staff instrui os pacientes, para os seguintes aspectos:
Visão geral da psicoterapia como método de aprendizagem;
Caracterização dos respectivos papéis, paciente e terapeuta, elucidando que comportamento se espera de cada um;
Antecipação do surgimento de fenômenos resistenciais, a propósito dos quais se esclarece que são universais, e que, longe de indicar um mau curso do tratamento, são um reflexo do grau do compromisso com ele;
Formulação realista das expectativas sobre resultados a obter em poucos meses de psicoterapia. Quando da alta, o paciente não terá eliminado seus problemas, mas o processo de aprendizagem vivido o ajudará a enfrentá-los melhor.
Os resultados de uma investigação de pacientes, com a entrevista indutora, compararam com os de outro grupo (controle) que não tiveram essa entrevista. Os grupos eram comparáveis no que refere-se a patologia, a classe social, ao sexo, a idade, porém, a psicoterapia empregada foi a mesma. O grupo experimental induzido, extraiu do tratamento maiores benefícios, com maior facilidade para funcionar na relação terapêutica, comparecendo as sessões com maior regularidade com apresentação de melhora acentuada quanto a alívio de sintomas e a reajustamento social.
As condições e possibilidades da interpretação merecem uma atenção, pois, a possibilidade de manejar a entrevista com um enfoque interpretativo enfrenta o risco de uma reação negativa do paciente, que pode se sentir invadido em excesso ou desqualificado em suas idéias sobre sua própria situação, antes de ter conhecido e aceitado as regras de uma relação terapêutica. O manejo interpretativo pode assumir num contexto que não é o de uma sessão de psicoterapia, mas o de uma consulta orientadora. Dois aspectos para que o psicoterapeuta inicie com cuidado o manejo da interpretação:
Ao diagnóstico, é fundamental que o psicoterapeuta possa oferecer, mesmo com as limitações dos dados extraídos, uma visão panorâmica do sentido da doença, do motivo central ligado a consulta, construindo um quadro global compreensivo, do qual decorrem os objetivos e a estratégia terapêutica, (função diagnóstica das aptidões do paciente, importante indicador sobre o tipo de técnica a escolher).
Com os obstáculos que interferem na possibilidade de o paciente aceitar um tratamento e comprometer-se com o contrato terapêutico, a interpretação transferencial pode com freqüência desempenhar em um papel decisivo. A função do psicoterapeuta é neutralizar ansiedades ligadas a fantasias transferênciais intensas que podem precipitar a desistência em curto prazo. Reforçar a motivação para o tratamento e em um plano secundário esclarecer em si aspectos do comportamento do paciente. O essencial na primeira entrevista é instalar o vínculo e esclarecê-lo em seu significado e alcance com a compreensão em conjunto o comportamento do paciente é tarefa do restante do processo terapêutico.
Conclusão
O instrumento Entrevista Psicológica, é um auxiliador para o trabalho do psicólogo. É preciso que o psicólogo desenvolva a sensibilidade para entrevistar, aprender ser empático, saber lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro, ser capaz de adentrar esse universo, sem preconceito, para que assim possa estar com o outro, conhecer e não temer, para que caso se perca, saber onde encontrar, para voltar à realidade do contexto. A primeira entrevista é essencial para o psicólogo, a nosso ver, com ela podemos demonstrar o método para o qual iremos trabalhar, estabelecer as formas como ela se compõe, á nível do possível, demonstrar a belíssima profissão que é a do Psicólogo. Somente assim o paciente entenderá a importância da psicoterapia e assim estabelecê-la não como motivo de vergonha, constrangimento, mas como um método de ajuda, prazer, libertação, quem sabe ao fim, a solução para uma determinada situação, pois quando falamos sobre o fim, não pensamos em dizer o fim de tudo, mas sim uma “página resolvida da vida” e que ainda virão muitas novas... A primeira entrevista é como se fosse o que muito dos apaixonados dizem em todas as noites estreladas e dias de sol, “Amor a primeira vista”, assim se for bem colocada, com ela nos apaixonamos e ficamos fantasiados com os outros encontros, imaginado qual será o próximo capítulo... Nossa profissão é belíssima quando alcançamos a alto-realização, à que compõe a pirâmide da hierarquia de necessidades do teórico Maslow, aprendemos que nos sentimos muito realizados quando alcançamos o objetivo, porém, ao contrário dela devemos aprender que nem sempre a alcançamos e muitas vezes ficamos frustrados com os resultados, porém, cabe ao psicólogo saber se este resultado não compete apenas a ele. Assim, a primeira entrevista é o primeiro degrau de uma escada que não se sabe ao certo até onde vai, mas o que sabemos é que a partir dela é que vamos conseguir caminhar até onde os degraus estiverem construídos. Que a primeira entrevista seja sempre realizada por todos os psicólogos com ética e acima de tudo a sabedoria, esta que assim é lapidada com o tempo...
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